Institucional
Campus Viçosa
16/06/2021
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Quando Regiane Aparecida de Oliveira ingressou no curso de Licenciatura em Educação do Campo (Licena), em 2014, encontrou a UFV dando seus passos iniciais em educação inclusiva. Como primeira estudante surda da UFV a se comunicar por Libras, tendo o português na modalidade escrita como segunda língua, ela trouxe muitos desafios para a instituição. Mas os maiores, sem dúvida, foram enfrentados pela estudante para vencer as dificuldades de aprendizado e de comunicação com seus professores ao longo da graduação.
Boa parte dessas dificuldades se justificava pela ausência de terminologias na Língua Brasileira de Sinais que contextualizassem, com mais precisão, termos utilizados no curso. Para palavras como agricultura, roça, sítio e rural era usado um único sinal em Libras. E este é apenas um exemplo. Como Regiane poderia entender conceitos tão diferentes sem sinais representativos? A resposta veio com o auxílio cotidiano da equipe da Unidade Interdisciplinar de Políticas Inclusivas (UPI) da UFV e de colaboradores do projeto Alfabetização e Letramento na Unidade de Programas Inclusivos.
Com o diálogo mantido com professores e estudantes do Licena, Regiane procurava entender o significado das palavras da sua área de estudo em seus respectivos contextos. A partir desse entendimento, a estudante e a equipe de intérpretes e tradutores de Libras/Língua Portuguesa da UPI pesquisavam com a comunidade surda do país se já havia um sinal padronizado para um determinado termo aprendido. Caso não existisse, investiam na criação dele e depois na sua validação por surdos-linguistas. Foi se criando, então, sinais-termos para que Regiane tivesse acesso ao vocabulário do curso.
O resultado deste esforço está no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que a agora ex-aluna da UFV defendeu no último mês de maio: A criação de glossário em Libras na área da Educação do Campo: a importância da criação dos sinais-termos para as Ciências da Natureza. Em atendimento à educação bilíngue, conforme o disposto na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, o TCC foi integralmente desenvolvido na primeira língua da estudante, a Libras. A defesa ocorreu no formato de vídeo-registro, que obedece a todos os parâmetros de produção científica. Neste caso, foi um trabalho monográfico, estruturado em torno de um objeto construído e delimitado a partir de um problema ligado à área de estudos a que está vinculado.
Importância
É o primeiro trabalho defendido na UFV neste formato e uma grande contribuição da Universidade para a comunidade surda. A professora Michelle Nave Valadão (Departamento de Letras), coordenadora da UPI e orientadora do TCC, conta que trabalhos desta natureza permitem que se avance no letramento dos surdos, dando a eles a possibilidade de acessar um material originalmente produzido em Libras; sem a necessidade de tradução, como ocorre geralmente.
A maioria dos surdos produz seus trabalhos científicos a partir da leitura de artigos, dissertações e teses em português. Há poucas produções científicas em Libras. “É preciso valorizar a língua portuguesa, claro, mas é necessário também reconhecer como científico um trabalho feito na língua primária do surdo”, defende Michelle.
Os sinais convencionados e registrados no glossário produzido pela Regiane já foram apresentados em congressos e poderão auxiliar em aulas e atividades acadêmicas de outros estudantes surdos de cursos de Educação do Campo do país ou de pesquisadores de ciências da natureza. O objetivo é que ele seja utilizado como material didático. E sobre essas possibilidades, Regiane resume seu sentimento em uma única palavra: “feliz”.
Além da orientação da professora Michelle, o TCC foi coorientado pela professora Cristiane Lopes Rocha de Oliveira, do Departamento de Educação. Elas dividiram a banca de defesa com Carlos Antonio Jacinto, ex-estudante de mestrado em Letras da UFV e atualmente doutorando, também em Letras, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Vale destacar que, por meio do projeto Alfabetização e Letramento na Unidade de Programas Inclusivos, colaboraram com o trabalho as professoras Rosa Cristina Porcaro e Danila Ribeiro Gomes, ambas do Departamento de Educação, e Idalena Oliveira Chaves, do Departamento de Letras, além de estudantes monitores.
O vídeo-registro pode ser conferido no link www.youtube.com/watch?v=glKMNvesBYU.
Divulgação Institucional
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