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07/04/2021
Os pesquisadores analisaram dados climáticos, econômicos e de disseminação da covid-19 em 52 países
A chegada do outono pode piorar ainda mais a disseminação do coronavírus no Brasil e em outros países tropicais? O clima interfere de alguma maneira na pandemia? Como países mais ou menos estruturados para lidar com crises sanitárias sofrem os efeitos da pandemia nas diferentes estações? Estas são algumas perguntas que uma pesquisa realizada por uma equipe multidisciplinar da UFV tentou responder. O objetivo é contribuir para o melhor entendimento desta doença que, por aqui, já completa dois outonos.
O trabalho foi feito por pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Genética e Melhoramento (PPGGM) da UFV, mas tem muito pouco a ver com esta área de atuação. “Nós somos pesquisadores que lidamos com estatística e estávamos interessados em oferecer alguma compreensão sobre a pandemia, por isso nos juntamos para responder a estas perguntas”, disse Luiz Alexandre Peternelli, um dos autores do artigo publicado recentemente na Revista Científica One Health, especializada em saúde.
O trabalho começou assim que a pandemia se revelou ao mundo. Os pesquisadores analisaram dados climáticos, econômicos e de disseminação da covid-19 em 52 países, entre 31 de dezembro de 2019 a 13 de abril de 2020. Os dados analisados cobrem períodos de verão e início do outono no hemisfério sul; e inverno e início de primavera no hemisfério norte. Além do efeito da temperatura, umidade relativa e índice de radiação, os pesquisadores também levaram em consideração as taxas de contágio da covid-19, conhecida como R0 e o Índice Global de Segurança em Saúde (GHS). Este índice internacional avalia o sistema de saúde e a capacidade de prevenção, detecção e respostas a ameaças biológicas. Em um ranking de 195 países, o Brasil, por exemplo, ocupa a 22ª posição, sobretudo pela capacidade do nosso Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo Bruno Leichtweis, primeiro autor do trabalho e doutorando do PPGGM, os resultados indicam que existe uma relação entre a taxa de propagação da covid-19 com a temperatura e, principalmente, com a radiação solar. Porém, o principal resultado encontrado foi em relação à capacidade dos países em detectar e responder a um surto emergente no controle da covid-19. ”Países que estão mais preparados para o enfrentamento da pandemia apresentaram um maior controle da disseminação naquele período estudado, e não sofreram com influência do clima. Os que estão menos preparados, têm uma taxa de propagação muito maior e também são influenciados pelas variáveis climáticas", explicou Bruno.
O professor Felipe Lopes Silva, esclarece que países com menores temperaturas apresentaram maiores taxas de contágio da doença. Portanto, há sim uma relação com períodos mais frios, mas depende de como os países lidam com as baixas nos termômetros. “Países mais desenvolvidos sofrem menos impactos climáticos em mudanças de estação por serem melhor estruturados. Isso equilibra os efeitos de variação climática, o que não ocorre em países com menos acesso a estes recursos”, lembrou.
Para os autores, então, as políticas públicas de contenção a doença, investimentos na área da saúde e preparo do país foram mais importantes para a contenção da disseminação da doença que os fatores climáticos. “Nós agrupamos os países que apresentavam semelhanças entre as variáveis estudadas. Os que tinham os mais altos valores do índice GHS não sofriam diferença na taxa de transmissão R0, mesmo havendo diferenças climáticas entre eles. Já os que foram agrupados com baixos valores do índice GHS, sofreram mais com as alterações climáticas”, disse Felipe.
O Brasil tem uma alta taxa de radiação solar e um índice GHS mediano, por isso, mais do que se preocupar com a chegada do outono ou inverno, é preciso cuidar da gestão da pandemia. “Nossos resultados demonstraram que a principal forma de se combater essa pandemia que assola o mundo, se encontra nas boas políticas de enfretamento à disseminação do vírus, como incentivo ao distanciamento social, uso de máscaras e higienização de mãos. Além de políticas de investimentos em pesquisas e no sistema de saúde que só são sentidos a longo prazo”, afirmou Letícia de Faria Silva, também autora do trabalho publicado.
Ainda para Luiz Alexandre Peternelli, o trabalho, que avalia os primeiros meses da pandemia, contribui para que surjam outros que confirmem as conclusões e acrescentem ainda mais variáveis para entender melhor os fatores que agravam a crise sanitária.
O trabalho contou com apoio da Capes, CNPq e Fapemig.
Léa Medeiros
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