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Pesquisa confirma Antártica como reservatório de carbono, capaz de reduzir efeitos das mudanças climáticas

14/03/2025

O Brasil celebrou, nesse domingo (16), o Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas. Os eventos climáticos extremos dos últimos anos, como chuvas, secas, ondas de frio e calor muito acima das médias históricas, colocam o planeta diante de dois desafios: emitir menos gases causadores do efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), e criar condições para sequestrar os gases que já estão na atmosfera, para que causem menos danos ao clima. Oceanos, solos e florestas são naturalmente considerados sumidouros de carbono, uma vez que são capazes de armazenar o gás capturado, compensando riscos climáticos.

Danilo de Mello em coleta de dados de solos na Antártica

Há mais de 20 anos, pesquisadores do Departamento de Solos da UFV estudam e monitoram um lugar especialmente sensível para detectar os avanços das mudanças climáticas: o continente Antártico. Em várias expedições para instalar sensores e conhecer o ambiente, eles se perguntam se os solos são capazes de capturar carbono da atmosfera, como se comportam os criossolos, como são chamados os que afloram com o recuo das geleiras, causado pelo aquecimento global. A questão é complexa, mas, agora, os pesquisadores da Universidade conseguiram mapear, predizer e quantificar, de maneira detalhada e em diferentes profundidades, os estoques de carbono orgânico do solo e sua dinâmica em duas regiões climaticamente distintas da Antártica.

As conclusões vão além da quantificação. Os pesquisadores descobriram que há um surpreendente contraste com o Ártico, no Polo Norte, onde ocorrem hoje as maiores emissões de carbono dos solos para a atmosfera. Embora gelados, os dois polos do planeta se comportam de maneiras opostas diante do aquecimento global: enquanto o degelo faz com que o Ártico emita CO2, a Antártica se apresenta com uma enorme capacidade de captura e armazenamento. O estudo foi publicado em um importante periódico científico, a Nature Communication Earth And Environment.

 

A pesquisa

Em 25 anos de pesquisas no Programa Antártico Brasileiro (Proantar), os pesquisadores da UFV instalaram 33 sítios de monitoramento da temperatura e umidade do solo, que formam, atualmente, a maior rede mundial de monitoramento em alta montanha nos Andes e na Antártica Marítima. Com os dados dos sensores instalados ao longo do tempo e outros gerados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), eles realizaram modelagens preditivas para avaliar os impactos das mudanças climáticas sobre os estoques de carbono e sua dinâmica em camadas de solos de 0 a 30 cm de profundidade. “Este impacto nos estoques e na dinâmica do carbono orgânico do solo na Antártica é atualmente incerto. Por isso, o nosso modelo inclui projeções do comportamento de variáveis bioclimáticas, como temperatura, precipitação e produção primária vegetal. Analisamos a contribuição de cada variável para a acurácia das predições, proporcionando uma compreensão detalhada dos fatores determinantes dessa dinâmica”, disse Danilo de Mello, autor da tese de doutorado que gerou o artigo publicado.

Segundo o professor Márcio Francelino, orientador do trabalho, os efeitos das mudanças climáticas, principalmente na temperatura e precipitação, aumentarão o estoque de carbono orgânico do solo (359 ± 146 Mg a 686 ± 197 Mg), indicando que as regiões sem gelo da Antártica Marítima e Peninsular tenderão a funcionar como um sumidouro de carbono. “A Antártica será o palco de intenso processo de captura de carbono em meio terrestre, pela cobertura vegetal em expansão após o recuo das geleiras e exposição dos solos”, afirmou.

Professor Márcio Francelino em um dos sensores instalados para monitorar os solos nos polos terrestres

Com a confirmação da Antártica como reservatório de carbono, o professor Carlos Schaefer, também autor do trabalho, chama a atenção para o contraste entre os dois polos terrestres. “No Ártico, os solos guardam um imenso estoque de carbono orgânico e também de metano congelado. Só que lá, ao contrário da Antártica, o recuo das geleiras está promovendo um processo de perda e emissão ativas de gases causadores do efeito estufa. Já na Antártica, os teores de carbono nos solos são muito baixos, e a vegetação que vai crescendo e ocupando as novas áreas livres de gelo, geradas pelo aquecimento, aumentam o potencial de sequestro de carbono nos solos”, disse.

A má notícia é que parece não haver um equilíbrio entre os dois polos, uma vez que o sequestro de carbono que acontece na Antártica não compensa as emissões do Ártico, o que não contribui para o balanço entre emissões e sequestro de gases que seria interessante para minimizar os efeitos das mudanças climáticas. Pior ainda: à medida que as geleiras recuam e descobrem os solos, as emissões agravam o clima.

Os resultados da pesquisa contribuem para o avanço do conhecimento sobre a dinâmica do carbono no solo, ajudando a aprimorar modelos preditivos sobre o impacto do aquecimento global e a entender melhor o papel dos solos na mitigação de emissões de carbono, bem como o papel da Antártica num cenário de mudanças climáticas.

No Ártico, os solos já armazenam grande quantidade de carbono. Com o degelo, passam a emitir para a atmosfera

 

A pesquisa citada nesta matéria está alinhada aos itens 13 ( Ação contra a mudança global do clima), 14 ( Vida na Água)  e 15 (Vida Terrestre) dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).