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Pesquisadores de diversas áreas compõem a Unidade de Mergulho Científico da UFV

24/07/2025

O que leva alguns professores da UFV a se tornarem referência no Brasil como mergulhadores científicos, se estamos a muitos quilômetros do mar e, na região da Zona da Mata mineira, as águas profundas são muito poucas? A resposta é velha conhecida da Universidade Federal de Viçosa: a ciência. 

Na UFV, docentes de diferentes áreas do conhecimento integram a Unidade de Mergulho Científico (UMC), uma iniciativa transdisciplinar que promove pesquisas, publica artigos, oferece cursos de formação e participa de comissões técnicas brasileiras e internacionais voltados à pesquisa subaquática. Dentre elas, o Grupo de Trabalho Mergulho Científico do PPG-Mar/SECIRM; o Centro Intersetorial de Pesquisas em Alterações Climáticas e Redução do Risco de Desastres (CIPARD) do CBMMG; Space & Extreme Environment Research Center; National Association of Underwater Instructors (NAUI). Com isso, os pesquisadores da UFV já acumulam uma vasta experiência prática nas águas do mar e de lagoas brasileiras.

Equipe de mergulhadores no Sítio Arqueológico Galeão Santíssimo Sacramento, na Bahia

 

O início

O grupo teve início em 2012, ano seguinte à chegada do professor Oswaldo Del Cima no Departamento de Física da UFV. Vindo da Universidade Federal Fluminense (UFF), Oswaldo trouxe com ele mais de 40 anos como mergulhador e instrutor de mergulho da NAUI e, mesmo distante do mar e seguindo as normas e padrões internacionais da Associação, o professor adaptou os treinamentos às condições possíveis na região. Rapidamente, envolveu colegas na atividade, despertando o interesse científico pelas profundezas aquáticas.

O grupo de pesquisadores mergulhadores da Universidade é atualmente formado pelos professores Eduardo Araújo e Álvaro Teixeira, do Departamento de Física (DPF); Rodrigo Batista, do Departamento de Medicina e Enfermagem; e André de Faria, do Departamento de Geografia.

No grupo, ainda estão professores que não integram a equipe de mergulho científico, mas participam das pesquisas: Hallan Silva, Leandro Rizzi, Daniel Franco e Maximiliano Munford, do DPF; Ângelo de Assis, do Departamento de História; Anésia dos Santos, do Departamento de Biologia Geral; e Amanda Silvatti, do Departamento de Educação Física. “Pode parecer que são áreas desconectadas, mas o mergulho é uma prática essencialmente interdisciplinar”, explica o professor Oswaldo. A Física, por exemplo, é fundamental para compreender os princípios que permitem a flutuação, o deslocamento subaquático, o funcionamento dos equipamentos, a respiração subaquática e a descompressão. Vamos desde Arquimedes às Leis de Newton, passando pela Óptica e a Termodinâmica”, afirma. Ele lembra que este conhecimento viabiliza o aprimoramento de equipamentos, aumentando a segurança, autonomia e eficiência em ambientes onde o ar não está presente.

Coleta de sedimentos na Enseada de Jaconema - Ilha Grande - Rio de Janeiro

 

As pesquisas na UFV

Em todas as áreas envolvidas, há uma imensidão de possibilidades para pesquisas. Nelas, a equipe de mergulho científico da UFV trabalha conjuntamente desde o planejamento das atividades de campo e coletas até as análises dos dados. 

Amanda Silvatti, da Educação Física, está iniciando estudos da biomecânica respiratória de mergulhadores autônomos - aqueles que usam equipamentos de respiração subaquática do tipo Self-Contained Underwater Breathing Apparatus (SCUBA). A ideia é determinar padrões respiratórios e avaliar a influência dos movimentos cinéticos do corpo na metabolização do oxigênio. Com isso, será possível definir meios de prolongar a duração do mergulho com mais segurança. O médico e professor Rodrigo Batista, por sua vez, coordena um projeto que já tem resultados promissores das contribuições da prática respiratória do Pranayama, da Ioga, na respiração e nos parâmetros fisiológicos de mergulhadores autônomos.

Outros projetos do grupo buscam desenvolver soluções brasileiras para o problema da descompressão, evitando os riscos do retorno à superfície. “Ao retornar de águas muito profundas ou após mergulhos muito longos, os mergulhadores precisam fazer paradas estratégicas em determinadas profundidades e por tempos predefinidos para reduzir o estresse descompressivo, causado pela presença de bolhas de gás inerte no sangue e nos tecidos do mergulhador”, comenta o professor Oswaldo. O estresse descompressivo causa processos inflamatórios no corpo, que podem evoluir para a doença descompressiva, que apresenta sinais e sintomas importantes, devido às lesões causadas por essas bolhas, colocando em perigo a saúde e a vida de quem mergulha. É por isso, que, aliando os conhecimentos da física e da medicina, os professores Rodrigo Batista e Oswaldo Del Cima coordenam um projeto com o objetivo de quantificar o estresse descompressivo por meio de indicadores inflamatórios, as citocinas.

O trabalho é realizado por meio do monitoramento de exames de sangue para definir modelos seguros de planejamento de mergulho. Em maio deste ano, o primeiro mergulho experimental, para fins de coleta de sangue pré e pós-mergulho, foi realizado no Lago Paranoá, em Brasília, durante o II Encontro de Mergulho Técnico NAUITEC. As amostras estão sendo analisadas no Laboratório de Imunovirologia, coordenado pelo professor Sérgio de Paula, do Departamento de Biologia Geral.

Já nos Laboratórios de Microfluídica e Fluidos Complexos, do Departamento de Física, os professores Álvaro Teixeira e Oswaldo Del Cima conseguiram reproduzir a evolução de bolhas de ar formadas no organismo dos mergulhadores em um líquido. O entendimento do fenômeno pode contribuir para o estresse descompressivo. Os resultados, segundo os pesquisadores, poderão ser implementados em um modelo de planejamento para diferentes perfis de mergulho.

Ainda observando os mergulhos com as lentes das teorias da Física em mente, os pesquisadores também querem desenvolver equipamentos para mergulhos mais longos, com maior autonomia; criar sistemas de absorção de gás carbônico mais eficientes em meios porosos, bem como drones e outros veículos de propulsão subaquática. Tais equipamentos já existem, mas os projetos ligados ao curso de Engenharia Física do DPF querem aperfeiçoá-los e torná-los mais acessíveis com tecnologia brasileira.

Por sua vez, o professor André de Faria observa as paisagens subaquáticas com seus olhos de geógrafo. Pesquisador de geomorfologia, ele mergulha em busca de histórias que os sedimentos que se depositam no fundo das águas podem contar. Usando armadilhas de sedimentos, ele e os colegas da equipe coletam amostras que podem revelar, por exemplo, a presença de microplásticos, rejeitos de minérios, metais pesados e pesticidas nas águas. De volta aos laboratórios de Geomorfologia e de Espectroscopia Raman, coordenado pelo professor Eduardo Araújo (DPF), a equipe analisa e caracteriza as amostras colhidas para identificar as partículas encontradas.

Sítio Arqueológico Galeão Santíssimo Sacramento 
 

Ensino e Extensão

A Unidade de Mergulho Científico da UFV oferece treinamentos para quem trabalha investigando o que há no fundo das águas, como bombeiros, peritos, estudantes, biólogos e arqueólogos. A equipe participa ainda do Centro Integrado de Pesquisa sobre Desastres e Mudanças do Clima do estado de Minas Gerais e do Corpo de Bombeiros Militar, contribuindo com formação e orientação para investigações subaquáticas, tudo isso com espírito científico, mesmo que bem longe do mar.

Para tantos planos e ações, a Unidade de Mergulho Científico conta com parcerias dos centros de ciências Humanas, Biológicas e Exatas da Uiversidade, do CenTev/tecnoPARQ, NAUI Brasil e NAUI Worldwide. A experiência dos professores já levou à criação de duas disciplinas optativas para a graduação, aberta a todos os alunos da UFV: Fundamentos do Mergulho Livre e Fundamentos do Mergulho Autônomo (SCUBA).

Os professores Álvaro Teixeira, Eduardo de Araújo, Oswaldo Del Cima e André de Faria