Institucional
Campus Viçosa
13/06/2023
Um acordo assinado, na última semana, pelo reitor Demetrius David da Silva com a Acelen, empresa de energia criada pelo fundo Mubadala Capital, dos Emirados Árabes Unidos, coloca a UFV em uma posição de destaque no processo de transição energética demandada pelo mundo. O acordo foi firmado com a refinaria de petróleo Mataripe S.A., na Bahia, adquirida pela Acelen há dois anos com o objetivo de torná-la uma biorrefinaria em escala global. A expectativa é que ela produza, de forma pioneira, combustíveis renováveis, como diesel verde (HVO) e querosene de aviação sustentável (SAF), a partir de matérias-primas de alto valor energético. E a UFV será uma parceira importante neste processo. Isso porque uma das matérias-primas a serem utilizadas pela Acelen é a macaúba, palmeira que há quase 20 anos vem sendo estudada na Universidade sob a liderança do professor e pesquisador Sérgio Yoshimitsu Motoike, do Departamento de Agronomia (DAA). A macaúba, inclusive, é protagonista da primeira patente verde obtida pela UFV junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial, em 2015.
O acordo firmado com a Acelen gira em torno do projeto Macafuel, coordenado pelo também professor do DAA, Leonardo Pimentel. Dentre outros aspectos, ele prevê ajustes tecnológicos para validar em grande escala o que os pesquisadores da UFV já conhecem em pequenas áreas de plantio. A Universidade Federal de Viçosa possui o maior banco de germoplasma da macaúba do mundo e foi pioneira nos trabalhos de melhoramento genético da espécie e na sua domesticação para sistemas de produção agrossilvipastoril. Os estudos acontecem na Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão (Uepe) de Araponga (MG), pertencente ao Departamento de Agronomia.
São as pesquisas realizadas ali que vão determinar a base genética para a produção de sementes e mudas para diversas regiões do Brasil e de outros países sul-americanos. São elas também que irão definir o pacote tecnológico a ser utilizado, como espaçamento, recomendação de fertilizantes e serviços ambientais prestados pelos cultivos, como indicadores para cálculo de créditos de carbono. A parceria com a Acelen vai possibilitar ir além dos resultados das pesquisas; ela irá validar as recomendações técnicas para adaptar o sistema de produção a diferentes climas e ambientes. Como a intenção da empresa é produzir, até 2026, três milhões de litros de diesel renovável, o equivalente a 20 mil barris/dia, firmar uma parceria com quem lidera há duas décadas um programa de domesticação da macaúba significa sair na dianteira no processo de transição energética de baixo carbono.
O professor Leonardo conta que a UFV tem material genético avaliado com potencial para ser multiplicado em escala e que, apesar de não haver ainda uma cultivar comercial, se está próximo disso. Para que se chegue ao produto ideal, as próximas etapas dos estudos contarão com os recursos da Acelen. O acordo assinado entre a Universidade e a empresa prevê, ao longo de cinco anos, um investimento de R$ 5,7 milhões em três linhas de pesquisa: melhoramento genético; avaliação dos serviços ambientais (balanço de carbono no sistema) e fitotecnia (sistema de cultivo e nutrição mineral). Em todas elas, a UFV já dispõe de uma base consolidada, que, nos últimos anos, tem dado segurança a grandes grupos no aporte de recursos às pesquisas da instituição.
A Universidade tem um histórico de fazer boas parcerias e entregar bons resultados, segundo Leonardo. Ele lembra que o primeiro grande projeto envolvendo a macaúba foi com a Petrobras, entre 2010 e 2016. Deste então, a Universidade tem firmado parcerias com o setor privado e coordenado acordos internacionais. No recente AcroAlliance, por exemplo, a UFV integra um convênio que, no Brasil, conta também com o Instituto Agronômico (IAC) e o Instituto de Tecnologia de Alimentos, e, na Alemanha, a Universität Hohenheim e o Fraunhofer-Institut für Verfahrenstechnik und Verpackung.
Benefícios
Os estudos realizados em conjunto com a Acelen terão a participação de seis professores do Departamento de Agronomia em diferentes áreas de expertise e de diversos estudantes (a serem selecionados), que receberão bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado financiadas pelo projeto. Além disso, estão previstos recursos para melhorias nas instalações da Uepe de Araponga, com aquisição de trator e implementos agrícolas modernos, custeio para operações de campo, o que inclui compra de insumos, manutenção de laboratórios e contratação de mão de obra terceirizada.
Neste contexto, todos sairão ganhando, na avaliação do professor do DAA. “Quando temos este tipo de parceria, além de contribuir com a modernização da infraestrutura da universidade, as nossas aulas são beneficiadas. Os estudantes têm acesso a um local bem equipado e estruturado, com uma equipe grande de trabalho, gerando dados reais levantados no campo, em sintonia com o que há mais moderno no mundo, que é desenvolver tecnologias para a transição energética e ajudar na construção de um planeta mais sustentável”.
Para o professor, por meios dos convênios público-privados “a UFV oferta conhecimento e avanços na área de pesquisa e a empresa apoia com recursos, possibilitando que a Universidade dê um giro importante, gerando mais tecnologia, mais bolsas de pesquisa, mais alunos treinados, mais resultados e mais extensão”. Ele considera que “se lá na frente gerar patentes, ótimo, a UFV também ganhará com elas. Todos os benefícios da pesquisa são compartilhados entre empresa e universidade. Assim, vamos cumprindo a nossa missão institucional, que é gerar conhecimento e tecnologia para a sociedade e, ao mesmo tempo, realizando a atividade básica, que é o ensino de qualidade”.
Diesel verde
O HVO (sigla inglesa para Hydrotreated Vegetable Oil) ou diesel verde é um combustível renovável que, a exemplo do biodiesel, pode ser produzido a partir de óleos vegetais e de gorduras de animais e residuais. Embora a base da matéria-prima dos dois seja a mesma, o processo químico que dá origem ao HVO é diferente. Neste caso, a tecnologia é um pouco mais moderna, explica o professor.
Para a produção do diesel verde, as matérias-primas reagem com o hidrogênio, formando uma substância semelhante ao diesel fóssil, podendo ser utilizada diretamente nos motores em qualquer proporção de mistura e sem necessidade de adaptações. Contudo, independentemente da rota tecnológica a ser utilizada, o gargalo para produção de ambos é a matéria-prima (óleo vegetal) em quantidade, qualidade e preço compatível com a finalidade. E é exatamente nesse ponto que a macaúba poderá contribuir muito para a transição energética. Sem falar que, além do óleo, também são gerados coprodutos proteicos no processamento da macaúba, que podem ser utilizados na alimentação humana e animal.
A escolha da Acelen pela macaúba está no desejo da empresa de buscar uma fonte para a produção de óleos vegetais que ao mesmo tempo agregue ao sistema produtivo serviços ambientais. “A macaúba é uma planta com produção muita alta de óleo (até 4 mil litros por hectare). Por se tratar de um cultivo florestal, possibilita o sequestro de carbono em grande escala, que, por sua vez, também é um produto comercializável no mercado global. E é isso o que a Acelen e o mundo estão buscando”, lembra Leonardo.
Segundo ele, a UFV não está sozinha nas pesquisas com macaúba. Dentre outras instituições, também se destacam nos estudos com a planta a Embrapa, Epamig e IAC. Contudo, considera a Universidade protagonista desta história e responsável por trabalhos robustos de pesquisa e de extensão, gerados por pesquisadores de departamentos, como os de Agronomia, Engenharia Agrícola, Engenharia Florestal, Economia Rural, Zootecnia, Solos e Tecnologia de Alimentos. A parceria com a Acelen é mais um reconhecimento do esforço de quase 20 anos de estudos e sela a contribuição da Universidade na mudança da matriz energética para fontes renováveis.
Divulgação Institucional
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