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Pós-Graduação da UFV tem primeira dissertação defendida por estudante surdo

25/09/2022

Viçosense, Wilson sempre teve o sonho de estudar na UFV

No Dia Nacional do Surdo, celebrado nesta segunda-feira (26), a UFV comemora a primeira defesa de dissertação de um estudante surdo na Universidade. O responsável por esse importante marco foi Wilson Fernando Pereira da Silva, mestrando da primeira turma do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática e professor de Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ele apresentou o trabalho intitulado A sequência didática “Quem sou”, “Onde estou” e “Como estou” (os cinco sentidos) no Projeto de Extensão BioLibras/UFV: o olhar da Pedagogia Surda.

A dissertação teve como campo de estudo o Projeto de Extensão BioLibras da UFV, que contempla estudantes surdos de Viçosa e região, oferecendo atividades de iniciação a ciências, por meio da sala de aprendizagem bilíngue e do apoio aos professores nas escolas de Viçosa. Na pesquisa participante foi analisada a sequência didática Quem sou, Onde estou e Como estou, abordando os cinco sentidos (visão, audição, paladar, olfato e tato) com base nos pressupostos da educação em ciências voltada aos surdos.

Os resultados indicaram que a elaboração e o desenvolvimento dessa sequência didática possibilitaram que o professor surdo e os integrantes do Projeto BioLibras se tornassem educadores populares ao desempenharem os papéis de articuladores, incentivadores e mediadores no processo educativo. Ao mesmo tempo, os estudantes surdos foram protagonistas no processo de ensino e aprendizagem, a partir de um constante questionamento da sua condição na sociedade, como integrantes de uma população de minoria linguística e cultural.

Também foi evidenciada a importância do ensino de Libras tanto para os estudantes surdos quanto para as famílias e a sociedade em geral, favorecendo o empoderamento dos surdos por meio da possibilidade de circulação da língua em diferentes espaços. Agora, Wilson e toda equipe envolvida no trabalho esperam que os resultados alcançados "possam iluminar caminhos para uma educação bilíngue, para a formação de professores e para novas possibilidades de pesquisar e compreender as atuais demandas voltadas à educação de surdos".

A dissertação, defendida no dia 16 de setembro, contou com orientação da professora Thaís Almeida Cardoso Fernandez, do Departamento de Biologia Geral, e coorientação do professor Vinícius Catão de Assis Souza, do Departamento de Química. Participaram da banca a professora Ana Regina e Souza Campello, do Instituto Nacional de Educação dos Surdos, e as professoras da UFV Fernanda Maria Coutinho de Andrade, do Departamento de Educação, e Michelle Nave Valadão, do Departamento de Letras e coordenadora da Unidade Interdisciplinar de Políticas Inclusivas. Michelle, inclusive, foi orientadora do primeiro trabalho de conclusão de curso, defendido no formato de vídeo-registro por uma estudante surda de graduação.

Trajetória inspiradora

Viçosense e filho de servidores aposentados da UFV, Wilson conviveu com a Universidade em toda a sua vida e sempre quis estudar nela. Como na época da sua graduação ainda não havia acessibilidade na instituição e as impossibilidades eram muitas, ele acabou desistindo. Até que, após se casar com uma pedagoga bilíngue e apoiadora das lutas dos surdos, o antigo sonho reapareceu.

Com a vinda de professores de Libras para o Departamento de Letras da UFV, estudos na área e projetos de pesquisas foram surgindo, nos quais Wilson chegou a ser parceiro e voluntário, como no BioLibras. Quando ficou sabendo que a Universidade teria a sua primeira seleção para o Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática (MPECM), se esforçou e conseguiu a tão sonhada aprovação. Durante o período de estudos e pesquisa, teve o apoio da equipe organizadora do MPECM, que lutou para que a acessibilidade fosse respeitada e para que ele se sentisse realmente incluído. Wilson contou com uma intérprete educacional por meio da UPI, com professores que buscaram modos de ensino mais visuais e com uma monitora bilíngue que estudava os textos de português com ele, já que todos materiais estavam na L2, segunda língua, e precisavam ser traduzidos para a sua L1, a Libras.

Para Wilson, ser o primeiro aluno surdo a defender uma dissertação na UFV, na área de educação acessível ao surdo, “é uma luta ganha, um sonho realizado e uma oportunidade de abrir caminhos”. Àqueles que têm o mesmo sonho, ele recomenda que procurem universidades com núcleo de inclusão educacional, com bons intérpretes, como na UFV, e lutem por seus direitos. “Ofereça o seu conhecimento de causa para levar o despertamento aos centros de pesquisa que você tem interesse de estudar. Não é fácil ser minoria, não são todas as pessoas sensíveis às diferenças, há muita falta de conhecimento, mas é possível, se tiver apoio”, ressalta.

Ações da UFV para estudantes surdos e com deficiência auditiva

Além do BioLibras, a UFV tem diversos projetos de extensão para surdos e pessoas com deficiência auditiva. Especificamente aos estudantes da Universidade há o atendimento educacional especializado por meio da UPI. No último semestre, por exemplo, a Unidade atendeu a 14 estudantes, dentre surdos e pessoas com deficiência auditiva, e ofereceu serviços como tradutor/intérprete de Libras/Língua Portuguesa, adaptação de material didático, possibilidade de realizar avaliações em local separado, orientação educacional e monitoria inclusiva.

Aos docentes desses estudantes, a UPI concedeu ainda suporte nas atividades de ensino contribuindo na elaboração e organização dos recursos didáticos, pedagógicos e de acessibilidade e, em casos específicos, na elaboração de material didático em relação à acessibilidade e inclusão.

Divulgação Institucional

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Banca da defesa da dissertação

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