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Pesquisadores descobrem nova espécie de inseto aquático na Bacia do Rio Doce

11/12/2025

Uma nova espécie de inseto aquático, denominada Smicridea (Rhyacophylax) exu, foi descoberta por um grupo de pesquisadores da UFV, na Bacia do Rio Doce. A novidade é descrita em artigo publicado na revista Biologia, do grupo Springer Nature, deste mês. O trabalho tem autoria de Ana Dária Leite Viana, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia, e coautoria do doutorando Pedro Bonfá Neto e do professor Frederico Falcão Salles, ambos do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, além dos estudantes de iniciação científica da UFV Ana Izidoro e João Curi e, ainda, do pesquisador Gleison Desidério, da Universidade Estadual Paulista.

A descoberta é resultado de anos de monitoramento na região afetada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), ocorrido em 2015 — o maior desastre socioambiental da história do Brasil. Foram percorridas 40 localidades em rios e afluentes da Bacia do Rio Doce, tanto na estação seca quanto na chuvosa.

A nova espécie, Smicridea exu, é um pequeno inseto aquático, semelhante a uma "micromariposa” quando adulto. Ela mede cerca de 5 mm e tem asas marrons com faixas claras. O que a diferencia das demais do gênero é, principalmente, a morfologia das estruturas reprodutivas dos machos, que funcionam como uma “impressão digital” para taxonomistas. Em S. exu, alguns desses detalhes são únicos, como o formato e conjunto de espinhos característicos.

Contribuição ambiental

Além de ampliar o conhecimento científico, a nova espécie cumpre um papel crucial no monitoramento ambiental. Como explica a doutoranda Ana Dária Viana, as larvas de Smicridea vivem fixadas em pedras nos rios, onde constroem pequenas redes de seda para capturar partículas orgânicas e outros invertebrados. Com isso, elas participam da ciclagem de nutrientes, da filtragem da água e da cadeia alimentar de riachos e rios. 

Muitas dessas espécies são sensíveis à poluição e à alteração do habitat, de modo que sua presença, ausência ou queda de abundância pode indicar mudanças ambientais, inclusive processos de degradação.

A pesquisa sobre a fauna de insetos aquáticos pode ainda ser amplamente utilizada como ferramenta de biomonitoramento. “Registrar uma nova espécie e atualizar a distribuição de outras ajuda a construir uma linha de base confiável, essencial para o acompanhamento do estado dos rios ao longo dos anos. Ao identificar quais espécies ocorrem, onde estão e em que quantidade, especialmente após um desastre da magnitude da barragem do Fundão, conseguimos compreender melhor os efeitos do impacto sobre a fauna, os sinais de recuperação e quais trechos do rio demandam maior atenção”, ressalta a doutoranda.

Ana Dária e Pedro Bonfá durante instalação da armadilha para captura dos insetos

A descoberta também amplia o conhecimento sobre a diversidade do gênero Trichoptera no Brasil e na Mata Atlântica, um grupo ainda pouco estudado fora de áreas de conservação. Além da novidade descrita, a pesquisa do grupo da UFV identificou 12 espécies desse gênero na bacia do Rio Doce, incluindo seis novos registros estaduais: três em Minas Gerais e outros três no Espírito Santo. Esses achados são importantes para a compreensão da biodiversidade da região, contribuindo para o monitoramento ambiental uma década após o desastre de Fundão.

Vale ressaltar que o material-tipo da Smicridea exu está depositado no Museu de Entomologia da UFV para ser consultado apenas por pesquisadores ou em visitas técnicas agendadas. O local conta ainda com exposição aberta ao público em que outras espécies da ordem Trichoptera e de outras ordens de insetos podem ser observadas.