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Pesquisadores da UFV criam curativo inteligente e biodegradável para tratamento de feridas na pele

30/04/2025

Que tal um curativo que, além de proteger e secar os machucados, já vem com substâncias que ajudam no processo de cicatrização das feridas? E mais: são biodegradáveis e ecologicamente corretos. Esta biodandagem ativa e inteligente no processo de cicatrização já existe e foi desenvolvida por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Química da UFV. Por reunir, em um único sistema, propriedades essenciais, como biocompatibilidade, atividade antimicrobiana, elevada capacidade de absorção e liberação controlada de princípios ativos, o produto será patenteado pela Universidade.

Em sua dissertação de mestrado, o pesquisador Marcos Vinícius de Sousa Pereira e seu orientador, professor Jemmyson Romário de Jesus, buscaram desenvolver uma tecnologia para criação de uma biobandagem capaz de unir sustentabilidade ambiental com funcionalidade avançada, superando o papel passivo dos curativos convencionais. “Muitos dos curativos disponíveis atualmente são produzidos com materiais sintéticos que, embora eficientes, apresentam baixa biodegradabilidade, contribuindo para o acúmulo de microplásticos no meio ambiente. Com o crescente apelo por soluções ecologicamente corretas, tornou-se urgente a busca por alternativas que aliassem desempenho terapêutico à sustentabilidade ambiental”, disse o professor Jemmyson.

Jemmyson de Jesus, orientador do trabalho

 

Curativo inteligente

Além da sustentabilidade, os pesquisadores buscaram tecnologias que tornassem os curativos agentes ativos e inteligentes no processo de cicatrização. “Já sabemos que polímeros naturais - polissacarídeos, como a quitosana, a pectina e alginato, por exemplo - apresentam características desejáveis para aplicações biomédicas, como biocompatibilidade, biodegradabilidade e propriedades antimicrobianas. Mas queríamos ir além, desenvolvendo um produto que favorecesse a cicatrização e, ao mesmo tempo, contribuísse para o monitoramento e controle dinâmico do ambiente da ferida”, afirmou Marcos Vinícius.

A biobandagem hidrocoloidal inteligente criada na UFV é baseada em quitosana, albumina e própolis verde, polímeros naturais com capacidade responsiva, por exemplo, à presença de umidade, pH ou temperatura. Os pesquisadores explicaram que o curativo é capaz liberar a própolis sempre que necessário. Isso acontece, porque o material da bandagem é "inteligente"; ou seja, ele consegue perceber quando há mudanças no ambiente da ferida. “Por exemplo, se a região estiver muito úmida ou com aumento de temperatura, com sinais de possível de infecção, a estrutura do curativo se modifica, permitindo que o medicamento seja liberado gradualmente. Além disso, também ajuda a controlar o exsudado, aquele líquido que mina das feridas, deixando o ambiente úmido e dificultando a cicatrização, se estiver em excesso. Esse controle do exsudado mantém o ambiente de ferida mais equilibrado para favorecer a regeneração da pele”, esclareceu Jemmyson.

 

A técnica

De acordo com os pesquisadores, a biobandagem foi obtida por meio de uma otimização multifatorial. “As análises de caracterização confirmaram a formação de um material poroso, com alta permeabilidade ao vapor d’água, favorecendo a cicatrização de feridas. A cinética de liberação do princípio ativo, a própolis verde, indicou a liberação controlada em, ao menos, duas etapas: uma mais rápida, dentro de 20 minutos, e outra mais lenta, controlada e sustentada”, explicou Marcos Vinícius. Os estudos demonstraram ainda que o composto ativo penetra efetivamente nas camadas da pele, enquanto o teste de toxicidade indicou a segurança biológica do produto desenvolvido.

O trabalho foi realizado durante o mestrado de Marcos Vinícius Pereira

O professor Jemmyson esclareceu ainda que a biobandagem inteligente representa um avanço terapêutico importante no tratamento de feridas dérmicas. Por isso, com o apoio do Núcleo de Inovação Tecnológica da UFV, os pesquisadores solicitaram a proteção intelectual da tecnologia junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). “A expectativa é de que, com a concessão da patente, seja possível promover parcerias com a indústria para a produção em escala e comercialização do produto, ampliando o acesso da população a tecnologias inovadoras, eficazes e ambientalmente sustentáveis no cuidado com a saúde”, disse ele.

A pesquisa citada nesta matéria está alinhada aos itens 3 (Saúde e Bem-Estar) 9 (Indústria, Inovação e Infraestrutura) 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis)  14 (Vida na Água) e 15 (Vida na Terra) dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).