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Pesquisadores desenvolvem inseticida sustentável contra mosquito transmissor da dengue

01/02/2024

De acordo com o Ministério da Saúde, o calor extremo dos últimos meses e o relaxamento da população em relação aos cuidados para evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti em águas paradas fizeram os casos de dengue e de chikungunya explodirem no Brasil neste início de ano. Dados do dia 30 de janeiro mostraram que o número de pessoas contaminadas no país triplicou em relação ao ano passado. Minas Gerais e outros estados já decretaram estado de emergência por causa do surto de dengue.

Enquanto a vacina Qdenga, oferecida pelo Ministério da Saúde, não chega para todos, pesquisadores brasileiros desenvolveram um inseticida capaz de matar a larva do mosquito e ajudar na prevenção. E ainda melhor: o produto é feito a partir de uma planta endêmica do Brasil e é seletivo; isto é, mata a larva do Aedes aegypti, mas deixa vivas outras espécies encontradas em meio aquático.

Inúmeras larvas brancas com cabeça laranja flutuando em líquido transparente.

O inseticida é fruto de um trabalho científico multidisciplinar, que envolve pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da UFV. Às duas primeiras coube identificar o potencial inseticida no óleo essencial de uma espécie de pindaíba (Xylopia ochrantha), comumente encontrada na restinga, ao longo de toda a costa brasileira. De acordo com o professor Leandro Rocha (UFF), após identificar a capacidade inseticida da planta, eles encapsularam as moléculas por nanoemulsificação, uma técnica na qual as gotas do óleo essencial estão em escala nanométrica, permitindo uma melhor liberação dos compostos inseticidas ao longo do tempo e prolongando a ação larvicida do produto. A tecnologia ainda utiliza baixa energia e não usa solvente orgânico, o que faz o produto ser biodegradável. Outra vantagem é o fato de ser possível retirar o óleo essencial de partes da planta sem destruí-la.

Participação da UFV

À UFV coube testar a capacidade seletiva do produto. “Existem muitas plantas com potencial inseticida, mas, para serem utilizadas de forma sustentável para o meio ambiente e sem maiores danos à saúde humana, elas precisam matar apenas o inseto-alvo, no nosso caso, a larva do mosquito transmissor da dengue”, explicou o professor do Departamento de Entomologia e um dos autores do trabalho, Eugênio Oliveira (à esquerda na foto abaixo). Ele afirmou ainda que esta capacidade seletiva reduz os efeitos indesejáveis em espécies não-alvos da tecnologia e é um dos diferenciais entre inseticidas naturais e sintéticos.

Eugênio (branco, camisa azul é óculos corretivo) e Miltom (negro, jaleco branco e camisa preta) posam para a foto.

O produto foi testado com larvas de Aedes aegypti e baratas d´água (Belostoma anurum), um percevejo comum em águas paradas e um predador natural de larvas de outros insetos. “Observamos que o inseticida garante uma seletividade em relação a outros organismos presentes no meio aquático e que são próximos filogeneticamente. Se for aplicado em uma caixa d´água, na concentração recomendada, não matará um peixe ou outros insetos, por exemplo, como é o caso da barata d’água. E isso o faz melhor que muitos larvicidas sintéticos”, disse Milton Campaz (à direita na foto acima), pesquisador orientado pelo professor Eugênio neste trabalho.

O artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista Sustainable Chemistry and Pharmacy.

A pesquisa citada nesta matéria está alinhada aos itens  3  (Saúde e Bem-Estar), 6 (Água potável e saneamento) e 14 (Vida na água) dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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