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18/05/2021
Pesquisas já comprovaram a existência do Sars-CoV-2 em águas residuais
Se os hospitais do mundo inteiro estão repletos de doentes infectados pelo coronavírus, o que é feito com o esgoto contaminado que sai destes hospitais? Algumas pesquisas já comprovaram a existência do Sars-CoV-2 nestas águas residuais e o risco de contaminação é ainda mais grave em países com ausência ou insuficiência de tratamento de esgoto, o que poderia agravar a pandemia e manter o vírus circulando. Agora, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa desenvolveu uma técnica simples e muito barata para destruir o vírus antes mesmo que ele chegue às estações de tratamento. E o que é melhor, a técnica tem potencial para eliminar também outros patógenos e até mesmo outros compostos químicos como antibióticos ou agrotóxicos que causam contaminação das águas e danos ambientais.
As pesquisas foram realizadas no laboratório de Biotecnologia Molecular da UFV e encomendadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para estratégias de combate à covid-19 no Brasil. Este laboratório já tem larga experiência em desenvolvimento de tecnologias para eliminação de microrganismos em efluentes e abordagens de controle de resistência de bactérias a antimicrobianos. Desde 2018, o grupo, liderado pelo professor Tiago Antônio de Oliveira Mendes, já publicou pelo menos três trabalhos de alto impacto sobre o tema.
Para destruir o coronavírus em rejeitos hospitalares, os pesquisadores desenvolveram uma membrana capaz de adsorver, ou seja, atrair e reter partículas do vírus. Este filtro é feito de um material derivado da celulose, de baixo custo e alta capacidade de produção a partir de biomassas de resíduos vegetais, que poderiam virar contaminantes ambientais, mas podem ser bem aproveitados. A grande contribuição científica do trabalho foi desenvolver uma tecnologia para adicionar cargas elétricas específicas à estas membranas, tornando-as adequadas para atrair e reter as partículas virais.
A pesquisadora Thaís Viana Fialho Martins explica que o filtro funciona como se fosse um cano para a passagem do esgoto hospitalar. Dentro dele está a membrana que segurou o vírus e uma lâmpada ultravioleta (UV) que aumenta o tempo de contato entre a radiação esterilizante e o patógeno, contribuindo para elevar a eficiência do processo de desinfecção. “A luz UV é prejudicial à saúde, por isso, nossa técnica faz com que ela fique retida e não entre em contato nem mesmo com os responsáveis pela substituição da membrana”, explicou a pesquisadora.
Segundo o professor Tiago, a junção da de luz UV à membrana desenvolvida na UFV, deu ao processo 100% de eficácia na remoção do material genético em apenas 30 minutos de exposição. “Este tempo parece ser importante para acelerar o processo de tratamento do esgoto hospitalar ou mesmo nas estações de tratamento das cidades”, disse ele. A técnica já está sendo testada também para atrair e destruir outros patógenos como bactérias que causam disenteria (Escherichia coli) e febre tifoide (Salmonella typhi).
Para realizar os ensaios que comprovaram a eficiência do processo, a equipe de pesquisadores também desenvolveu uma espécie de coronavírus sintético, que permite facilmente a realização dos estudos em um ambiente seguro. Para isso, eles isolaram o material genético do vírus retirando dele a molécula que tem capacidade de gerar infecção. Este material foi colocado dentro de outro vírus que não causa doença e emite uma luz facilmente detectada durante o processo de infecção de células em laboratório. Assim, a eficiência da inativação do vírus em esgotos pode ser detectada pela redução da produção do sinal luminoso das amostras em experimentos seguros e controlados em laboratório. Este material também pode ser utilizado em pesquisas que estudam outros métodos de controle do vírus e novas abordagens de tratamento para covid-19.
A tecnologia de desinfecção de águas residuais será patenteada pela UFV e já está em fase de escalonamento da produção das membranas e do filtro para viabilizar a industrialização. Enquanto isso, a equipe do laboratório de Biotecnologia Molecular já está testando a tecnologia para remover outros vírus e patógenos, incluindo o vírus da hepatite, rotavírus, adenovírus e bactérias causadoras de leptospirose e cólera.
Equipe participante do projeto:
Thaís Viana Fialho Martins
Graziela dos Santos Paulino
Maria Eduarda Almeida Pinto
Yaremis Beatriz Meriño Cabrera
Ananda Pereira Aguilar
Higor Sette Pereira
Thaysa Leite Tagliaferri
Tiago Antônio de Oliveira Mendes
Financiamento: CNPq
Léa Medeiros
Divulgação Institucional
Fotos: Daniel Sotto Maior
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