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28/08/2020
O aplicativo é gratuito e de fácil aplicação
A cachaça faz parte da cultura nacional e é um bom negócio no Brasil. Quem gosta está sempre a procura da velha e boa bebida, nem sempre fácil de achar. Para a economia brasileira, a produção é muito favorável. Estima-se que, no país, haja mais de 40 mil fabricantes, entre microempresas e pequenos produtores. Juntos, eles totalizam mais de cinco mil marcas e faturam aproximadamente US$ 600 milhões ao ano, empregando 450 mil pessoas diretamente. O problema é a garantia da qualidade da cachaça, fiscalizada por quem bebe e também pelo Ministério da Agricultura. Não faltam, no mercado, cachaças adulteradas e contaminadas que podem fazer muito mal a bebedores e vendedores. Mas como a ciência pode ajudar?
Já está ajudando! Desde 2017, um grupo de pesquisadores do programa de pós-graduação em Agroquímica da UFV tem investido esforços para auxiliar produtores a quantificar contaminantes presentes na cachaça, no próprio alambique, usando um telefone celular.
O coordenador do Laboratório de análises ambientais, farmacêuticas e de amostras ambientais, professor Willian Toito Suarez, explica que as análises químicas necessárias para cumprir as legislações brasileiras para a produção de cachaça são feitas em laboratórios, exigindo custos altos para o pequeno produtor e muitos cuidados com as amostras para evitar problemas com os resultados. A solução, proposta pela equipe de pesquisadores da UFV, é muito barata e oferece resultados ágeis, uma vez que os testes podem ser feitos durante o processo de fabricação. “Nossos métodos permitem controlar vários compostos importantes para a qualidade da cachaça. Por meio de um aplicativo gratuito, o Photometrix, obtemos alguns parâmetros de forma simples e instantânea. A aplicação tem custo irrisório e é de fácil construção e operação”, afirmou o professor Willian.
Os pesquisadores esclarecem que o método de fazer análises usando smartphones já é conhecido, o que a equipe da UFV fez foi criar padrões específicos para avaliação de níveis de cobre, furfural e metanol, alguns dos principais contaminantes da cachaça. Agora, um outro trabalho, conduzido pelo pesquisador Mathews de Oliveira Krambeck Franco para sua tese de doutorado, criou um método de testagem para quantificar os níveis de açúcar nas bebidas.
Segundo Mathews, é comum os produtores adicionarem açúcar para corrigir defeitos sensoriais apresentados pela cachaça recém destilada. A adição é permitida por lei até o limite de 6 gramas por litro. Mais que isso, a bebida precisa ser vendida como cachaça adocicada. “É importante que os níveis de açúcar estejam dentro dos padrões estabelecidos pela legislação, para que os produtores não tenham problemas na certificação das bebidas. Apesar da adição de açúcar ser comum pelos produtores, ela não pode ser excedida, pois também pode prejudicar a qualidade sensorial e descaracterizar a bebida”, disse ele.
Além de acrescentar mais um composto capaz de ser detectado pelo smartphone, a pesquisa de Mathews também simplificou ainda mais a metodologia de análise. Agora, para fazer os testes nos alambiques, os responsáveis técnicos precisam apenas de dois reagentes adicionados à amostra. Depois, ela é colocada na própria caixa do celular para que seja fotografada, usando o flash como fonte ideal de luminosidade. A foto é, então, avaliada por um aplicativo que analisa a cor resultante para indicar os níveis das substâncias a serem analisadas
O artigo produzido a partir da tese de Mathews foi publicado no início do mês de agosto pela prestigiada revista Food Chemistry. O aplicativo está disponível gratuitamente na Google Play (Android) ou App Store (IOS).
Léa Medeiros
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