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12/03/2019
O mundo todo está de olho na capacidade das florestas brasileiras sequestrarem a quantidade crescente de carbono depositado na atmosfera nas últimas décadas, minimizando os efeitos do aquecimento global. Os riscos das mudanças climáticas já criaram um modelo de negócios que funciona assim: países que poluem muito pagam para proprietários de terra no Brasil protegerem as florestas que capturam o carbono da atmosfera. As negociações com crédito de carbono têm futuro no agronegócio. Mas não são só as árvores que capturam os gases do aquecimento global. Os solos também fazem isso com uma capacidade de armazenamento até três vezes maior. A questão era saber o quanto capturam e qual o potencial dos solos brasileiros para armazenar carbono.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa pode ajudar a fazer esta conta. Eles mapearam a quantidade de carbono presente no solo de cada quilômetro quadrado dos mais de oito milhões de km2do país com um bom grau de certeza. Os resultados podem ajudar a elaborar projetos mais eficientes para uso agrícola da terra, conservação ambiental, créditos de carbono e pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento.
Mapear o estoque e a distribuição do carbono nos solos do território brasileiro envolveu um trabalho gigantesco considerando a complexidade e diversidade do território brasileiro. O resultado foi publicado na Geoderma, uma revista científica internacional de alto impacto para as ciências agrárias. Ao ser postado em uma rede social de pesquisadores, o artigo também gerou impacto imediato em todo o mundo, demonstrando o potencial de utilidade do trabalho realizado.
A pesquisa é fruto de um trabalho do pesquisador Lucas Carvalho Gomes, orientado pelo professor Elpídio Inácio Fernandes Filho. Também assinam o artigo os pesquisadores Eliane de Souza, Raiza Farias, Gustavo Vieira Veloso e o professor Carlos Ernesto Schaefer, todos do Departamento de Solos da UFV.
O Brasil já possuía um mapa de carbono no solos, mas esta foi a pela primeira vez que foram analisados estoques de carbono em camadas de até um metro de profundidade, a cada 10 cm. O professor Elpídio explica que a capacidade de armazenamento de carbono varia muito nos diferentes tipos solos, por isso o trabalho é mais complexo. Os solos brasileiros são muito antigos ou intemperizados, o que faz com que a maior parte do armazenamento do carbono aconteça nas camadas superficiais. Os pesquisadores da UFV calcularam a superfície com mais detalhes, chegando também às camadas mais profundas, com até um metro de profundidade, com definições de valores a cada 10 cm. “Nestas camadas os estoques que menores, mas muito importantes para o valor total de carbono”, disse ele.
Outro mérito do trabalho foi calcular o estoque para todos os biomas brasileiros. “O Bioma Amazônia possui os maiores valores de reservas de carbono no solo, enquanto a Mata Atlântica possui as maiores concentrações de carbono. Os dados são muito importantes para o uso da terra e para a adoção de práticas agrícolas mais conservacionistas”, disse Lucas Gomes. O estudo também identificou que quase um terço do estoque de carbono do solo do Brasil acontece em solos localizados em áreas de proteção ambiental, como reservas naturais e terras indígenas.
Para mapear todo o território brasileiro, os pesquisadores usaram o banco de dados de perfis de solos construídos pelo Projeto Radam Brasil, cruzando informações de mais de uma centena de variáveis que controlam o estoque de carbono nos solos para contemplar a diversidade ambiental no país. “Nós consideramos variáveis como clima, vegetação, relevo e precipitação para cada um dos mais de oito mil perfis de solos cadastrados. Foram gerados 100 mapas para cada quilômetro quadrado do Brasil. O modelo foi rodado também uma centena de vezes até encontrarmos médias confiáveis de armazenamento de carbono”, disse o orientador do trabalho. Para isso, a equipe usou técnicas de modelagem espacial para processar as informações e gerou mapas que ficarão disponíveis em bancos de dados de revistas especializadas. O estudo também apresenta uma completa metodologia para a modelagem e mapeamento de estoques de carbono em extensas áreas que poderá ser usado em outros países.
Léa Medeiros
Divulgação Institucional
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