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Brasil lidera maior circum-navegação científica da Antártica, com participação de pesquisadores da ciência do solo da UFV

06/11/2024

Entre 22 de novembro de 2024 e 25 de janeiro de 2025, o Brasil vai liderar uma das mais ambiciosas missões à Antártica: a Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica, que percorrerá mais de 20 mil quilômetros da costa daquele continente para chegar o mais perto possível das frentes das geleiras. A expedição contará com cientistas de sete países: Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Peru e Rússia. No total, serão 61 cientistas, incluindo 27 brasileiros. Dois deles são professores do Departamento de Solos (DPS) da UFV: Márcio Rocha Francelino e José João Lelis de Souza estarão entre os pouquíssimos pesquisadores do mundo que terão a oportunidade de conhecer todo o continente Antártico em busca das respostas que os solos gelados podem dar ao entendimento das mudanças climáticas planetárias

4 pessoas de preto caminhando numa colina coberta de pedras e neve num dia de sol. A UFV participa de expedições na Antártica há mais de 20 anos

A longa viagem de circum-navegação pelo continente gelado terá objetivos muito diversos. Pesquisadores de diferentes áreas coletarão amostragens ao longo da costa para a realização de estudos biológicos, químicos e físicos, focando dados atmosféricos, geofísicos, glaciológicos e oceanográficos do manto de gelo antártico e seu entorno. A expedição também incluirá um levantamento aéreo inédito das massas de gelo, monitorando o comportamento das geleiras diante das mudanças climáticas.

Segundo o coordenador geral da expedição e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jefferson Cardia Simões, em 2016/2017 alguns cientistas brasileiros já participaram de uma expedição semelhante, mas esta será ainda mais ambiciosa sob o ponto de vista científico. “O pioneirismo da nova expedição está em ser realizada o mais perto possível da costa da Antártica. Esperamos ter dados sobre a linha de flutuação das geleiras e, simultaneamente, apoiaremos um levantamento geofísico dessas frentes de geleiras para entender como elas respondem ao aquecimento da atmosfera e do oceano", explica ele, reforçando que a expedição espera também coletar dados sobre a biodiversidade, a resposta da fauna polar às variações climáticas, a circulação oceânica e os sinais de poluição.

Para percorrer toda a costa e acessar o continente antártico, será usado o navio quebra-gelo científico Akademik Tryoshnikov, do Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica (São Petersburgo, Rússia). A expedição é 97% financiada pela fundação suíça Albédo pour la Cryosphère, dedicada ao estudo e à preservação da massa de neve e do gelo planetário e conta com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).

 

A participação da UFV

Entre os 61 pesquisadores que participarão da expedição, apenas os brasileiros Márcio Francelino e José João Lelis, da UFV, o doutorando da Universidade de Brasília Fábio Leal e o russo Ivan Alekseev se dedicarão exclusivamente aos estudos sobre solos gelados, chamados de criossolos.

A UFV tem uma sólida tradição em pesquisas nesta área. Desde 2002, sob a liderança do professor Carlos Ernesto Schaefer (DPS), pesquisadores da Universidade participam de expedições à região da Antártica Marítima, que incluiu o entorno da Estação Brasileira Comandante Ferraz, que representa a área que vem registrando as temperaturas mais elevadas do continente. Nas viagens anuais no verão antártico, os pesquisadores já instalaram 29 sítios de monitoramento da temperatura e umidade do solo, que formam, atualmente, a maior rede mundial de monitoramento da camada ativa e do permafrost e geraram um precioso banco de dados de solos de uso internacional.

Mas, desta vez, eles irão muito mais longe, circundando todo o continente e percorrendo nove estações de pesquisas de outros países. Nelas, já existem resultados de estudos sobre temas diversos, como biomas e fauna, mas não sobre solos, área em que os brasileiros, e particularmente a UFV, são pioneiros.

Homem dentro de um buraco cavado num solo coberto por pedriscos e sem vegetação. O professor Jose João Lelis coleta amostras de solos em uma das expedições na Antártica

 

Um olhar sobre o passado e o futuro do continente

Para entender o que acontece na Antártica,  José João e Márcio Francelino vão se dividir em passado e futuro. Em sua quarta viagem ao continente, João José Lelis se dedicará a coletar amostras de solos nas nove estações internacionais. Seu objetivo será estudar a gênese do solo, ou seja, como se formaram e se transformaram ao longo de bilhões de anos. “O solo é como um livro, ele conta a sua própria história, mas é preciso saber ler”, disse o professor da UFV. As rochas que dão origem ao solo podem ser datadas. Os solos, por sua vez, guardam a memória química e biológica da sua formação. “Poderemos descobrir, quando as geleiras descongelaram, se já houve cobertura vegetal e presença de animais em todo o processo de evolução da região", disse.  José João participará da expedição em parceria com a UFMG, no projeto coordenado pelo professor Luiz Henrique Rosa.

3 pessoas de preto manuseando equipamentos no topo de uma colina com pedriscos e vegetação rasteira. Instalação de sensores em expedições realizadas próximas à estação brasileira

Ao professor Márcio Francelino caberá olhar para o futuro. Em sua 17ª viagem à Antártica, desta vez, ele instalará sensores de monitoramento de temperatura nas nove estações internacionais com capacidade de gerar informações de hora em hora, enviadas por satélite. “Se ocorre aquecimento, o permafrost se aprofunda; se ocorre resfriamento, ele chega mais próximo da superfície. Isso o torna um eficiente sensor das variações do clima e nos permite modelar o que pode acontecer por aqui”, disse ele. Os sensores também permitirão avaliar a emissão de gases de efeito estufa nas áreas livres de gelo, principalmente naquelas que vêm sendo recentemente expostas com o recuo das geleiras.

Mas para serve todo esse conhecimento? É que a Antártica, assim como o Ártico, são as regiões mais sensíveis às mudanças climáticas e indicam o que poderá acontecer ao resto do mundo à medida que elas evoluírem. Além da imensa influência do clima sobre a biodiversidade do planeta, o descongelamento do permafrost indica, por exemplo, se haverá aumento na emissão de gases do efeito estufa para a atmosfera ou se o degelo fará aumentar o nível do mar, causando grande impacto no planeta. São as respostas que os pesquisadores buscarão nos dois meses de circum-navegação, uma aventura de muito trabalho e dedicação ao continente gelado.

As pesquisas citadas nesta matéria estão alinhadas com os seguintes Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS): Ação Contra a Mundaça Global do  Clima, Vida na Água e Vida Terrestre.

Logo do ICCE: navio vermelho e branco circum-navegando a Antártica num mar azul escuro.