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Atividade de mineração ameaça saúde e sobrevivência de morcegos frugívoros da Mata Atlântica

19/03/2024

Não é de hoje que os danos ambientais provocados pela atividade de mineração têm gerado preocupações relacionadas à preservação da biodiversidade da Mata Atlântica, pela destruição da vida selvagem e poluição por metais e metaloides. Um estudo recente, realizado por pesquisadores do Departamento de Biologia Animal da UFV, coordenado pela professora Mariella Bontempo Duca de Freitas (foto), reforça esta preocupação.

Ao examinarem os impactos da mineração sobre os morcegos frugívoros (que se alimentam de frutas) em áreas de exploração de minério de ferro e alumínio, em Minas Gerais, os pesquisadores descobriram efeitos adversos nos tecidos desses mamíferos, particularmente nas espécies Artibeus lituratus (à esq. na foto) e Sturnira lilium (à dir. na foto), nas quais o estudo se concentrou. A escolha por esses morcegos se deu pela importância deles no ambiente em que vivem, em função de sua ampla gama de forrageamento e por dispersarem sementes de plantas pioneiras.

Na espécie Artibeus lituratus, foram explorados os efeitos do minério de ferro e, na Sturnira lilium, do minério de alumínio. Nos dois casos, os morcegos foram comparados com indivíduos de um fragmento preservado da Mata Atlântica. Os Artibeus lituratus, das áreas de exploração de minério de ferro, mostraram maior acúmulo de alumínio, cálcio, ferro e bário no fígado, além de cálcio e ferro no músculo. Eles também apresentaram maior dano oxidativo no fígado e nos rins, associado à fibrose hepática e inflamação renal. Já os morcegos Sturnira lilium, das áreas de exploração de minério de alumínio, revelaram maior acúmulo de cálcio e bário no fígado, além de cálcio, zinco e bário no músculo, e maior estresse oxidativo no cérebro, fibrose hepática e inflamação renal.

Os resultados indicam, portanto, que as atividades de exploração de minério de ferro e alumínio estão causando danos significativos aos tecidos dos morcegos, ameaçando a saúde e a sobrevivência deles. Essa descoberta revela uma potencial ameaça à manutenção da biodiversidade da Mata Atlântica pelo fato de os morcegos frugívoros serem essenciais para a regeneração florestal, como dispersores de sementes e polinizadores essenciais. Por isso, conforme artigo publicado no Journal of Hazardous Materials, os pesquisadores consideram crucial a adoção de medidas imediatas para proteger essas espécies vitais e os ecossistemas que elas sustentam.

A ciência já sabe que alguns animais desempenham papéis fundamentais para a regeneração de ambientes florestais degradados. Esse é o caso dos morcegos que, além disso, também executam outros papéis ecológicos com implicações de longo alcance. Como a maioria das espécies é insetívora, eles ajudam no controle das populações de insetos, inclusive daqueles causadores de pragas agrícolas e vetores de doenças. Com isso, podem representar uma economia de milhões de reais, a cada ano, para os setores agrícola e de saúde pública. Para os pesquisadores, compreender o impacto ambiental da mineração nas espécies-chave estudadas é fundamental para os esforços de conservação destas espécies.

No artigo, eles chamam a atenção para a necessidade de implementação de regulamentações mais rigorosas para controlar a poluição proveniente da mineração e a criação de áreas protegidas para preservar os habitats naturais dos morcegos. E lembram que somente por meio de esforços coletivos e de uma ação coordenada poderá se garantir um futuro sustentável para as paisagens naturais e as diversas formas de vida que nelas habitam.

O artigo Iron and aluminum ore mining pollution induce oxidative and tissue damage on fruit-eating bats from the Atlantic Forest pode ser acessado em www.sciencedirect.com.

Divulgação Institucional
Foto: Guilherme Garbino