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Pesquisa alerta que mais de um terço da floresta amazônica está degradada

27/01/2023

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Enquanto o mundo todo observa os sucessivos recordes de desmatamento na Amazônia, um estudo, que envolveu mais de 30 pesquisadores, mostrou que é preciso atentar também para a degradação da floresta. Segundo os autores, 38% do que resta da área florestal sofre com algum tipo de degradação, o que provoca tanto ou mais emissões de carbono que o desmatamento. O artigo científico, que tem como um dos autores o professor Marcos Heil Costa, do Departamento de Engenharia Agrícola, foi publicado, nesta sexta-feira (27), na revista Science e mereceu a capa da edição.

Durante quatro anos, pesquisadores de diversos países reuniram e analisaram dados científicos já publicados anteriormente sobre mudanças na região amazônica, entre 2001 e 2018. De acordo com eles, enquanto no desmatamento a floresta deixa de ser floresta, ou seja, envolve mudanças na cobertura do solo, após a degradação ela continua sendo floresta, mas passa por mudanças danosas, transitórias ou de longo prazo em sua condição. Essa transformação pode afetar funções, propriedades ou serviços, como estoque de carbono, produtividade biológica, composição e biodiversidade, estrutura da floresta e microclima, dentre outros.

A pesquisa considerou quatro fatores principais de degradação: fogo, efeito de borda (as mudanças que acontecem em áreas adjacentes às desmatadas), extração seletiva de madeira (como desmatamento ilegal) e secas extremas. Para as estimativas, os autores usaram como critério a emissão de carbono nas áreas degradadas. Eles contam que diferentes trechos de florestas podem ser atingidos por um ou mais desses fatores, que têm diferentes origens. “O artigo demonstra que a degradação florestal pode ser tão séria quanto o desmatamento e precisa ter as mesmas políticas, ou seja, tem que ser monitorada, estudada e combatida com boas políticas públicas. Mas, atualmente, este problema ainda não recebe a merecida atenção”, diz o professor da UFV.

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O combate à degradação depende da governança da floresta

Marcos Heil lembra que a pesquisa avaliou perspectivas para a degradação florestal em cenários com e sem governança, até 2050. Os pesquisadores concluíram que, se não houver controle do desmatamento e de atividades predatórias na Amazônia, em menos de 30 anos, a emissão de carbono poderá ser sete vezes maior do que em um cenário de governança. Em ambas as situações, porém, os quatro fatores de degradação continuarão sendo as principais fontes de emissão de carbono na atmosfera, independentemente do crescimento ou interrupção do desmatamento da floresta.

Apesar de parecer óbvio, mesmo em um cenário otimista, quando não existe mais desmatamento, a degradação continuará sendo fator de emissão de carbono, principalmente pelas mudanças climáticas”, afirma David Lapola, pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura, da Universidade de Campinas, e líder do estudo. Segundo o cientista, impedir o avanço do desmatamento pode contribuir para que mais atenção seja direcionada a outros fatores de degradação da floresta.

Para o professor Heil, o artigo evidencia que conter a degradação é tão importante quanto frear o desmatamento, mas pode ser mais complicado. “Ela é menos visível e pode ser esparsa e disfarçada, uma vez que são muitas as suas causas. Pequenas extensões de degradação e mínimas queimadas dificultam a detecção por satélite. Ainda não temos um sistema de monitoramento para degradação florestal, e será preciso atentar para isso. A pesquisa mostra que temos um grande desafio a enfrentar”, diz.

O trabalho propõe apostar em estratégias inovadoras

Os autores salientam ainda que, assim como no desmatamento, nas atividades que degradam as florestas, poucos ganham dinheiro e muitos perdem em questões de saúde, qualidade de vida, biodiversidade e equilíbrio climático. O artigo propõe a criação de um sistema de monitoramento para a degradação, além da prevenção e coibição do corte ilegal de madeira e controle do uso do fogo. Uma das sugestões é o conceito de smart forests que, assim como na ideia de smart cities (cidades inteligentes), usaria diferentes tipos de tecnologias e de sensores para coletar dados úteis, a fim de monitorar a degradação e melhorar a qualidade do ambiente.

Foto de capa do site: Marizilda Cuppe

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