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13/09/2021
A chia é um alimento de baixo custo e produzido em diversas regiões do Brasil
Dizem que os astecas já comiam sementes de chia para saciar a fome em grandes viagens. Há cerca de dez anos, em muitos países, a planta típica dos Andes virou moda entre os que buscam uma alimentação saudável. Para avalizar o consumo da chia como alimento com propriedade funcional, a ciência foi buscar as confirmações e descobriu que sim, as fibras e gorduras das sementes de chia são benéficas para a manutenção da saúde e para a redução do risco de doenças cardiovasculares. Além das fibras e gorduras, 20% desta semente é composta de proteínas e, até agora, a ciência ainda não conhecia bem o efeito delas na saúde. Esse foi o objetivo de uma tese defendida, ano passado, no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Nutrição da UFV (PPGCN). As descobertas foram tão surpreendentes que o trabalho ganhou o prêmio Capes de Tese 2020, um reconhecimento nacional como a melhor tese defendida na área da Nutrição em todo o país.
O trabalho foi desenvolvido pela pesquisadora Mariana Grancieri, agora pós-doutoranda no Laboratório de Nutrição Experimental da UFV, orientado pela professora Hércia Stampini Martino e coorientado pela professora Neusa Maria Brunoro Costa. A pesquisa já rendeu quatro artigos em revistas científicas de alto impacto. Além de um grande aprofundamento teórico no conhecimento dos benefícios da planta, os resultados podem gerar suplementos alimentares e produtos fitoterápicos de grande utilidade para redução do risco de desenvolvimento e complicações das doenças cardiovasculares, bem como obesidade, diabetes e inflamações crônicas. Vale lembrar que as doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade e redução da qualidade de vida da população brasileira e mundial.
Mariana Grancieri explica que o objetivo do trabalho foi verificar se, além das fibras e lipídeos, as proteínas da chia também teriam efeitos promissores contra as principais alterações metabólicas relacionadas ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares, incluindo a inflamação, adipogênese, nome dado à formação de células de gordura, e aterosclerose. Para isso, foi preciso separar os tipos de proteínas e simular a digestão destas, tal como ocorre naturalmente no organismo humano, para, então, testá-las em células. Em outro trabalho, posterior à tese, estas proteínas digeridas foram testadas em camundongos induzidos à obesidade e os resultados foram igualmente inéditos e promissores.
O trabalho demonstrou que, após a digestão, as proteínas da chia produziram peptídeos com efeitos anti-inflamatórios, anti-aterogênicos e anti-adipogenicos, reduzindo, portanto, alterações metabólicas diretamente relacionadas ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares. “Descobrimos que as proteínas da chia também possuem efeitos positivos contra alterações indutoras de doenças cardiovasculares, além das fibras e lipídeos que eram tidos como principais responsáveis por esses efeitos benéficos. Nós também constatamos que o elevado teor de lipídeos da chia, principalmente o ômega-3, é decorrente da composição proteica dessa semente. No desenvolvimento da planta, a configuração proteica é o que permite o armazenamento dos lipídeos”, afirmou Mariana. Os estudos foram feitos com testes bioquímicos e de bioinformática realizados na UFV e na Universidade de Illinois (EUA), onde a pesquisadora fez parte do seu doutoramento, sob supervisão da professora Elvira de Mejia.
Para a professora Hércia, os conhecimentos gerados com esse trabalho ressaltam novos mecanismos benéficos da chia, estimulando, ainda mais, seu consumo pela população. “Estes benefícios são ainda melhores se considerarmos o baixo custo da chia, ampliando o acesso a um maior número de pessoas que podem se beneficiar dessa semente para reduzir o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e obesidade, bem como outras relacionadas à inflamação, como diabetes e câncer. Além disso, o maior consumo de chia pode estimular ainda mais seu plantio, agregando à economia do país”, disse a orientadora do trabalho.
Os pesquisadores do PPGCN já têm tradição em estudos que buscam alimentos com potencial funcional para combater os mecanismos que desencadeiam as anomalias de doenças cardiovasculares, entre eles, a chia. Um trabalho da pesquisadora Bárbara Pereira da Silva, que avaliou a biodisponibilidade de minerais da semente de chia e também foi orientado pela professora Hércia, recebeu o prêmio Capes de Tese em 2019. Em 2017, o PPGCN também foi premiado com a tese defendida por José Luiz Marques Rocha e orientada pela professora Josefina Bressan
Léa Medeiros
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Mariana Grancieri foi autora da pesquisa que ganhou o Prêmio Capes de Tese em Ciência da Nutrição
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