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Cachorro mais antigo das Américas é identificado em estudo publicado por graduado na UFV

01/03/2021

Graduado na UFV, Flávio Coelho segura o fragmento de osso descoberto no Alasca

Nem os milhares de quilômetros percorridos, durante uma era glacial, em uma das regiões mais remotas do planeta, parecem ter abalado a fidelidade daquele que é conhecido como o "melhor amigo do homem". Um estudo recém-publicado por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Buffalo, nos EUA, integrada por um biólogo graduado e mestre pela UFV, identificou, num fragmento pré-histórico de osso descoberto no Alasca, o cachorro mais antigo já encontrado no continente americano. E o bicho, possivelmente, surgiu na Sibéria, de onde "teria vindo junto" com nossos ancestrais.

O artigo publicado na revista Proceeding of Royal Society B e repercutido em sites importantes como Science e National Geographic, tem como primeiro autor o biólogo viçosense Flávio Augusto da Silva Coelho - bacharel em Ciências Biológicas e mestre em Biologia Animal pela UFV. Atualmente doutorando na Universidade de Buffalo, o pesquisador - que estuda a evolução e biogeografia de mamíferos no sudeste do Alasca - explica os motivos pelos quais a descoberta contribui para o entendimento do modo como os primeiros Homo sapiens chegaram ao que, milhares de anos depois, viria a se tornar a América. "Desde que foram domesticados, os cães sempre acompanharam os seres humanos. Por isso, a presença deles é um forte indicativo da presença de nossa espécie, ajudando a entender a ocupação do planeta por nós", afirma.

Uma das conclusões mais significativas no estudo, que também é assinado por Stephanie Gill, Crystal M. Tomlin Timothy H. Heaton e Charlotte Lindqvist, diz respeito à trajetória dos seres humanos em sua vinda da Ásia para o Alasca e além. Até agora, a teoria mais aceita era a de que o deslocamento teria ocorrido numa rota surgida no interior do território, então ocupado por duas grandes geleiras. Isso porque os restos do que antes era o cachorro mais antigo haviam sido encontrados em uma região central dos Estados Unidos, sugerindo um percurso por dentro do continente.

"Nossas análises apoiam um caminho diferente, pela costa oeste, à margem do que hoje é o Oceano Pacífico", observa Flávio, acrescentando que, na época, o "litoral" era bem distinto de como é hoje. "A maior parte da água estava congelada nos polos, então o nível dos oceanos era muito mais baixo, algo em torno de 150 metros. Isso tornava possível andar em muitas áreas que estão atualmente submersas", complementa o pesquisador.

 

O urso que era um cachorro

Um dos objetivos da equipe integrada por Flávio é entender as mudanças climáticas ocorridas na Era Glacial afetaram os mamíferos que habitam o Alasca. Para isso, recorrem a materiais escavados por arqueólogos, paleontólogos e outros pesquisadores. Um desses vestígios era um fragmento de osso, encontrado na década de 1990, que era atribuído a um urso. Mas a história ganhou outro rumo quando os cientistas de Buffalo, ao analisarem o denominado PP-00128, perceberam que estavam, na verdade, lidando com um pedaço de fêmur de um cão. "Comparamos o DNA mitocondrial com o de outros já encontrados e identificamos um parentesco com uma linhagem proveniente da Sibéria, da qual teria se ramificado há cerca de 16.700 anos", completa Flávio.

O pesquisador conta ainda que o interesse pelo tema surgiu durante a época em que estudava na UFV. "Sempre gostei de evolução. No final da gradução e no mestrado, quando também fiquei fascinado pela biogeografia, me interessei por biologia molecular. Juntei os assuntos e acrescentei a paleontologia, chegando ao que estou estudando agora", afirma.

Vale observar que as aspas no primeiro parágrafo (em "teria vindo junto") se devem ao fato de que o cão cujo fragmento de osso foi encontrado não era exatamente o próprio exemplar saído da Sibéria, e sim, um descendente já nascido onde viria a ser a América do Norte. Como explica Flávio, ao mesmo tempo em que o estudo lança luzes sobre alguns aspectos, faz também emergir outras perguntas. "Ainda não se sabe se a travessia aconteceu a pé ou em algum tipo de embarcação, por exemplo. Nem por qual razão os seres humanos vieram. Mas sabemos que, quem veio, teve a companhia de cachorros", afirma

Marcel Angelo

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