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Pesquisa desenvolvida na UFV sugere que a ingestão de castanha-do-brasil pode melhorar qualidade do leite materno

25/02/2021

Os ácidos graxos contidos na castanha são essenciais para o desenvolvimento dos bebês

A simples ingestão de uma pequena porção diária de castanha-do-brasil na dieta da mãe durante o período de lactação pode ajudar no desenvolvimento dos bebês. Isso é ainda mais importante para os prematuros, que precisam do leite materno para se recuperarem melhor. Estas são conclusões de uma tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa.

A pesquisa foi realizada pela médica pediatra Denise Rodrigues, que também é preceptora do Departamento de Medicina e Enfermagem (DEM) da UFV. Ela lembra que o leite humano é o alimento ideal para os recém-nascidos até os dois anos de idade, pois oferece os nutrientes necessários para o desenvolvimento das crianças. O leite materno também fornece compostos bioativos responsáveis por uma melhor resposta imunológica, principalmente para os que nascem prematuros e são mais vulneráveis às doenças.

Como a qualidade do leite também depende da alimentação da mãe, a pesquisadora buscou uma fonte que contivesse o que os bebês mais precisam na primeira etapa da vida: calorias saudáveis. “Os ácidos graxos essenciais são responsáveis pelo crescimento, pelo desenvolvimento neurológico dos bebês, pelo aumento do perímetro cefálico e do peso corporal”, disse a pesquisadora ao explicar que estes são os parâmetros comumente avaliados pelos pediatras na curva de crescimento de recém-nascidos. Ela disse ainda que optou por investigar a castanha-do-brasil porque a literatura científica já indicava que o selênio, muito presente nas castanhas, participa da formação de diversas enzimas importantes para o desenvolvimento de todo o organismo dos bebês, inclusive o cérebro.

Durante a pesquisa, Denise avaliou o desenvolvimento de cerca de 30 bebês a partir de um mês de vida, quando o leite da mãe já está maduro. Todos foram nascidos a termo, saudáveis e tiveram um bom acompanhamento pré-natal. As mães foram separadas em grupos que receberam ou não as castanhas-do-brasil. Depois, os grupos eram invertidos para permitir comparação. A cada 15 dias, ela avaliava os exames de sangue e a qualidade do leite.

Nos exames de sangue maternos, a pesquisadora notou melhoras em todos os parâmetros, com destaque para colesterol, triglicerídeos, hormônios e proteínas. Ao dosar a presença do selênio no sangue, ela concluiu que este elemento foi fundamental para a melhora no perfil bioquímico das mães.  “Ao comparar com o grupo controle, percebemos ainda que as mães que ingeriram a castanha perderam emagreceram depois da gestação sem perder massa magra, o que é fundamental para recuperar o peso e reduzir o risco de obesidade", disse Denise. A pesquisadora destacou ainda a considerável mudança no perfil calórico dos bebês que foram amamentados e acompanhados até os quatro meses.

Para Denise, os achados científicos sugerem que o uso adequado de castanha-do-brasil poderia ser implementado em programas de saúde pública, para atender os bancos de leite humano e modular o perfil do leite oferecido aos bebês. “Crianças prematuras precisam muito de leite materno e as calorias saudáveis, geradas pelos ácidos graxos, poderia ajudá-las no crescimento, no desenvolvimento neurológico e na melhoria da imunidade nesta fase difícil que é o início da vida dos pequenos”, disse a pediatra.

Mas quantas castanhas uma lactante deveria ingerir por dia para melhorar a qualidade do leite? Na pesquisa as doses eram bem baixas, cerca de 1,5 gramas de castanha por dia. “Em doses maiores, o selênio pode ser tóxico e prejudicar a saúde. Para proteger as mães e bebês, usamos uma dose mínima e supercontrolada e mesmo assim verificamos uma expressiva melhora na qualidade no leite materno”. Como não é possível prever a dose ideal em diferentes tipos de castanha encontradas no mercado, a pesquisadora sugere uma castanha média por dia.  

A castanha usada na pesquisa (Bertholletia excelsa) é também conhecida como castanha-da-amazônia, castanha-do-acre, castanha-do-pará, noz amazônica, noz boliviana e tocari ou tururi, dependendo da região do Brasil.

A tese de doutorado foi orientada pela professora Jane Sélia dos Reis Coimbra e contou com apoio financeiro contou com apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

Léa Medeiros

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