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Campus Viçosa

New York Times utiliza base de dados sobre Covid-19 criada por doutorando da UFV

10/06/2020

No site, há um mapa interativo e gráficos de regiões e estados para diferentes métricas

A base de dados sobre a evolução da Covid-19 no Brasil - já divulgada neste site - desenvolvida pelo doutorando em Física da UFV Wesley Cota tem servido de fonte de referência para organizações científicas e para importantes canais de comunicação do país e do mundo. O último a adotá-la foi o jornal New York Times, que vem rastreando detalhes sobre a pandemia em todo o mundo, coletando informações com governos e fontes confiáveis. Com a decisão do Ministério da Saúde – da qual recuou nessa terça-feira (9) - em não mais divulgar os casos e óbitos acumulados no Brasil, um editor do New York Times entrou em contato com Wesley, solicitando o direito de usar os dados disponíveis no site criado pelo doutorando, o qual considerou como “impressionante” pela consistência de suas informações.

Wesley, que está na Espanha cursando doutorando sanduíche na Universidad de Zaragoza, lembra que, desde o início da pandemia no Brasil, houve problemas com o acesso aos dados da Covid-19 no país. Segundo ele, a plataforma oficial do Ministério da Saúde mudou pelo menos três vezes durante esse período, com alterações nos arquivos originais e na apresentação. “O ápice ocorreu no último final de semana, quando omitiram os dados acumulados e tivemos um apagão temporário deles. Nunca houve um padrão, e já falam novamente em mudar o formato dos arquivos. Isso é péssimo para a pesquisa”, avalia.

Em sua base de dados, Wesley mantém o registro histórico dos números de casos e óbitos oficialmente divulgados pelo Ministério da Saúde para o Brasil e para cada estado. Ele também utiliza os dados das secretarias estaduais de saúde com os casos de cada município. Os dois estão separados para que seja possível comparar os números. O doutorando se baseia nos arquivos originais, que, conforme conta, são sempre adequados para que possa manter o padrão e a consistência dos formatos. Quem os utiliza não precisa se preocupar com as mudanças nas fontes oficiais. Wesley ressalta que a atualização dos números no site e do repositório de dados só é feita depois de muita conferência.

Tanto é assim que, no último final de semana, ele não utilizou em sua plataforma os dados informados pelo Ministério da Saúde. “Os números de 1.382 novos óbitos e de 12.581 novos casos, divulgados aos jornalistas no domingo, eram inconsistentes. Embora vários portais de notícias os tenham publicado, mais tarde ficou confirmado que havia sido um erro do próprio Ministério. Os números foram corrigidos horas depois para 525 novos óbitos e 18.912 novos casos”, conta. 

Diferenciais e usuários

Diferente das outras bases existentes, a que foi desenvolvida pelo Wesley tenta agregar informações. Enquanto o Brasil.IO, por exemplo, tem apenas os números de casos e óbitos por município, na base de dados criada pelo doutorando são incorporados dados extras. Além de apresentar os números oficiais do Ministério da Saúde, ele também divulga o de recuperados, suspeitos e testes em nível estadual. A ideia é ter uma base de dados única com o máximo de informações possíveis para facilitar a análise. Além disso, no site há um mapa interativo e gráficos de regiões e estados para diferentes métricas, todos automáticos.

Dentre os usuários da base estão a Rede CoVida, o Grupo de Assessoramento Científico do IME, o Comitê Científico do Nordeste e a Secretaria de Saúde da Bahia. Wesley também tem recebido com frequência mensagens de pesquisadores, secretários de saúde de municípios e até de gestores de empresa, que desejam cruzar os dados, por exemplo, em setores de energia e de farmácia. Há ainda as citações científicas que mencionam o trabalho do doutorando da UFV. De mídia, além do New York Times, a BBC e jornais de Minas Gerais e do Rio de Janeiro já incorporaram o mapa interativo desenvolvido por Wesley com os casos e óbitos confirmados nos municípios. Conforme o Google Analytics, entre 10 de abril e 10 de junho, houve 790 mil visualizações da página do monitoramento. Ultimamente são cerca de seis mil acessos diários.

Embora Wesley se sinta “muito gratificado” ao ver seu trabalho servindo de fonte importante de informação sobre o Brasil, ele se diz preocupado. “Sinto que eu e todos os voluntários em iniciativas dessa natureza estamos fazendo um trabalho que seria obrigação dos órgãos competentes. As pessoas querem saber como está a situação em suas cidades. É uma pena que haja tanto problema na apresentação e consolidação desses dados, mesmo depois de meses do início da pandemia”.

Em sua opinião, mesmo se o Ministério da Saúde tivesse razão em questionar os números, a transparência é fundamental para que eles sejam analisados por qualquer pessoa. E comenta: “até o momento, não encontramos nenhuma divergência ou estranheza nos números reportados pelas secretarias estaduais, e tudo leva a crer que estão subestimados, e não o contrário. Se fizerem a recontagem, vão encontrar números bem maiores”. Outra decisão preocupante que poderia ser tomada pelo Ministério da Saúde, na avaliação do doutorando, diz respeito à divulgação apenas dos óbitos ocorridos no dia. Segundo ele, esse número é sempre menor que a realidade, pois existe um atraso na confirmação da causa dos óbitos e da entrega dos resultados.

Na UFV

Vale lembrar que Wesley Cota é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Física da UFV, onde integra o Grupo de Investigação de Sistemas Complexos (GISC). Esse grupo é coordenado pelo seu orientador, o professor Sílvio da Costa Ferreira Júnior, com o qual Wesley trabalha integralmente nos projetos relacionados à modelagem epidêmica, juntamente com o também doutorando Guilherme Costa.

O trabalho na UFV, inclusive, abriu as portas para que Wesley cursasse seu doutorado sanduíche pelo PDSE/Capes, integrando o Grupo de Modelagem Teórica e Aplicada do Instituto de Biocomputación y Física de los Sistemas Complejos da Universidad de Zaragoza. Com o grupo, Wesley participou da criação de um modelo computacional para predição da incidência de coronavírus na Espanha. Esse modelo está sendo usado também em outros países, como Portugal, Brasil, México, Chile, Suíça e Dinamarca e, agora vem sendo adaptado para cidades na Colômbia, projeto do qual o doutorando também faz parte.

Baseado no trabalho realizado na Espanha, Wesley estudou, conjuntamente com o professor Silvio Ferreira e com Guilherme Costa, como a onda endêmica entraria no interior do Brasil, quantificando os atrasos e a heterogeneidade no impacto da doença em diferentes municípios. E, segundo ele, isso já está acontecendo. Enquanto algumas capitais e grandes centros podem estar melhorando seus índices, o interior sofre com o crescimento de casos. Wesley conta que esse trabalho “foi 100% UFV” e que estão em colaboração com o Comitê Científico do Nordeste, que tem acesso direto aos governadores da região por meio do médico Miguel Nicolelis - coordenador do projeto Monitora Covid-19 -, para ajudar na tomada de decisões. O estudo dos pesquisadores da UFV foi tema de reportagem do jornal O Globo e citado no programa Estúdio i, da Globo News.

 

Adriana Passos

Divulgação Institucional - campus Viçosa