Campus Viçosa

Estudo revela que ficar em pé ameniza malefícios do sedentarismo em crianças

04/10/2019

A ciência já comprovou e muita gente já sabe que o comportamento sedentário não está necessariamente associado à falta de atividade física regular, mas também à não realização de ações cotidianas, como caminhar para o trabalho, por exemplo. Os estudos já consolidaram a ideia de que, para os adultos, fazer atividade regular e ter um estilo de vida ativo traz uma proteção muito maior à saúde. Mas o que dizer sobre as crianças que, no mundo contemporâneo, fazem menos atividade física e passam muito mais tempo sentadas, seja em sala de aula, seja em casa, jogando games e assistindo TV?

Um estudo realizado no Programa de Pós-Graduação em Educação Física da UFV concluiu que ficar mais tempo em pé pode amenizar os efeitos negativos do sedentarismo das crianças. Parte desse estudo está no artigo Can Replacing Sitting Time with Standing Time Improve Adolescents’ Cardiometabolic Health?, publicado na última edição do Journal of Environmental and Public Health. Dentre seus autores, estão os ex-estudantes de mestrado do programa Ricardo Campos Farias e Bruno Pereira de Moura – atualmente doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob orientação do professor Rogério Lopes Rufino Alves – e o professor do Departamento de Educação Física da UFV Paulo Roberto dos Santos Amorim, seu orientador de mestrado.

Pesquisa

Com o uso de um aparelho chamado acelerômetro, que permite medir a aceleração do corpo em situações cotidianas, os pesquisadores verificaram, durante uma semana, a atividade física habitual de estudantes internos do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais, da cidade de Rio Pomba. Com o inclinômetro – existente no aparelho - eles também identificaram posicionamentos corporais, como estar sentado ou em pé.

Foram avaliados 109 meninos, com idade média de 16 anos. A escolha pelos moradores do IFE Sudeste MG foi para que os pesquisadores pudessem controlar todas as variáveis: do padrão nutricional às atividades físicas realizadas ao longo do dia.

Durante o estudo, os pesquisadores adotaram um procedimento estatístico conhecido como substituição isotemporal, que permite trocas de tempo em comportamentos diferenciados. Eles fizeram a substituição do tempo sentado dos meninos em intervalos de 15, 30, 60 e 180 minutos. Os resultados indicaram que, a partir de 15 minutos em pé, já havia benefícios sobre a parte lipídica. E, à medida que se aumentava o tempo em pé, maiores eram os benefícios, comprovados pelos biomarcadores cardiometabólicos (exames de sangue).

A explicação, segundo o professor Paulo Roberto Amorim, está no fato de que ficar em pé promove uma série de contrações musculares que favorecem o perfil lipídico. Por isso, ao final de um dia, o somatório dessas contrações pode representar um impacto significativo sobre a saúde cardiometabólica. O pesquisador ressalta que não existe uma medida padrão para aferir um comportamento sedentário, que, em geral, é detectado a partir de anamneses realizadas pelo profissional com o seu cliente ou paciente. Uma das novidades do estudo, portanto, está na utilização de uma porção do acelerômetro para identificar o tempo sentado e o tempo em pé.

Expectativas

Com os resultados obtidos pela pesquisa, a expectativa é ajudar a gerar políticas públicas em relação às atividades das crianças. O professor Amorim cita a Finlândia, onde as escolas dispõem, por exemplo, de bolas suíças (aquelas utilizadas na prática do Pilates) para as crianças ficarem sentadas por um tempo. Ele reconhece que a realidade daquele país é muito diferente da do Brasil, já que lá as turmas têm oito ou nove alunos, enquanto aqui têm 40. Mas o estudo, em sua opinião, pode ajudar na recomendação de alternativas para que os alunos minimizem seu tempo sentado e, consequentemente, o sedentarismo.

Atualmente, de acordo com o professor, já há muitas iniciativas nesse sentido para os adultos, como estações em que eles trabalham em pé. “Lógico que não estamos dizendo que as crianças devam assistir todas as aulas em pé e as pessoas trabalharem todo o tempo em pé, mas é importante que, em algum momento, eles se movimentem. Só o fato de ficarem um pouco mais em pé já seria interessante”.

Paulo Roberto Amorim lembra que não existe uma recomendação sobre qual tempo seria suficiente para promover as alterações benéficas. “O que conseguimos ver é que, a partir de 15 minutos, já começam os benefícios. E isso é algo factível e simples de se fazer, que promove diferenças significativas no perfil cardiometabólico das crianças. A ideia é combater o comportamento sedentário e mostrar que pequenas atitudes podem trazer efeitos positivos na saúde das pessoas, desde a mais tenra idade”.

 

Adriana Passos

Divulgação Institucional

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