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Artigo de professores da UFV fica entre mais acessados do mundo em revista do grupo Nature

25/06/2019

Pelo menos três quartos de tudo o que a população mundial come depende do trabalho de insetos como polinizadores de plantas. As abelhas são os principais polinizadores e são fundamentais para garantir produtividade e a qualidade dos frutos em diversas culturas agrícolas. O problema é que elas estão morrendo em proporções alarmantes. Em todo o mundo, pesquisadores estão avaliando as causas da mortalidade e os prejuízos para a segurança alimentar planetária. Na UFV, um estudo inédito, que está entre os mais acessados do mundo na área de ecologia, identificou uma possível causa pouco conhecida do extermínio das abelhas: os campos eletromagnéticos.

O artigo Extremely Low Frequency Electromagnetic Fields Impair the Cognitiv and Motor Abilities of Honey Beespublicado pelos professores Eugênio Eduardo Oliveira, do Departamento de Entomologia, e Maria Augusta Lima, do Departamento de Biologia Animal, é o 35º entre os cem artigos mais acessados em 2018 na área de Ecologia. Por isso, eles receberam o selo Top 100 in Ecology 2018, emitido pelo periódico científico Scientific Reports, do grupo Nature. O trabalho é fruto de um projeto desenvolvido pelos professores da UFV em parceria com pesquisadores da University of Southampton, na Inglaterra.

A morte das abelhas

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU), 85% das plantas com flores das matas e florestas e 70% das culturas agrícolas dependem dos polinizadores. A polinização das abelhas é fundamental para garantir a alta produtividade, a qualidade dos frutos em diversas culturas agrícolas e a biodiversidade. Mas, nos últimos 15 anos, a presença das abelhas tem se modificado em todo o mundo. Somente nos EUA, mais de um terço dos enxames são perdidos todos os anos. Além dos prejuízos à segurança alimentar, o desaparecimento pode levar à extinção de alguns alimentos importantes à manutenção de dietas equilibradas. O declínio da população de abelhas é tão preocupante que, desde o ano passado, a FAO instituiu o dia 20 de maio como o Dia Mundial da Abelha e tem realizado campanhas para alertar a população para os perigos da extinção.

Ainda segundo a FAO, a queda na quantidade de abelhas e de outros polinizadores deve-se, em grande parte, as práticas agrícolas intensivas, a monocultura, ao uso excessivo de produtos químicos agrícolas e as temperaturas mais altas, associadas às mudanças climáticas.

O grupo de pesquisadores da UFV, assim como outros em todo o mundo, já tem trabalhos produzidos a partir de testes com inseticidas, herbicidas, fungicidas e transgênicos nas populações de abelhas, mas a influência das redes de transmissão de energia e telefonia não havia sido bastante estudada até então. Isolar a influência dos campos eletromagnéticos na neurofisiologia das abelhas e descobrir que a influência das radiações interfere na navegação delas em direção às plantas foram os aspectos que chamaram a atenção da comunidade científica internacional no trabalho.

O principal objetivo dos pesquisadores foi avaliar como diferentes fatores causadores de estresse, estudados de forma isolada ou em conjunto, podem alterar o comportamento, fisiologia, saúde e cognição de abelhas melíferas, a espécie mais estudada no mundo todo e que também ocorre no Brasil. “Os estudos tem que ser conduzidos com muita segurança porque o tema envolve cifras bilionárias da indústria de alimentos e de agroquímicos”, disse a professora Maria Augusta.

As abelhas melíferas voam em um raio de até 12 quilômetros para se alimentar. Enquanto buscam o néctar, carregam o pólen responsável pela fertilização das flores e a reprodução das plantas. O estudo concluiu que, quanto mais perto das torres de transmissão, mais as abelhas têm o voo alterado. “O campo eletromagnético das redes de transmissão modifica a velocidade do voo fazendo com que as abelhas tenham mais dificuldades para polinizarem as plantas”, disse Eugênio Oliveira.

Atualmente, a equipe está investigando se a exposição conjunta aos campos eletromagnéticos e aos inseticidas causam efeitos letais ou subletais às abelhas melíferas. “Nós isolamos os efeitos de diferentes doses de compostos químicos e de graus de radiação para responder com segurança a influência que exercem no comportamento das abelhas”, explica Maria Augusta. Os resultados já estão adiantados e serão publicados em breve. Se houver mais financiamento, os pesquisadores pretendem adaptar os estudos as espécies mais comuns no Brasil. “Nós usamos a abelha melífera como referência porque é um modelo já conhecido e também é a espécie mais estudada no mundo” afirmou Eugênio Oliveira.

A premiação

Para os professores da UFV, os méritos científicos do artigo publicado ano passado e agora premiado pelo grupo Nature não seriam alcançados se não fossem os financiamentos feitos pela Fapemig, por meio de cooperação com a universidade inglesa, e da Capes, por meio do Programa Ciência sem Fronteiras. Os apoios financeiros permitiram a vinda dos professores Phillip Newland e Chris Jackson à UFV, bem como do então doutorando Sebastian Shepherd, todos ligados à University of Southampton. “O intercâmbio entre docentes e estudantes foi fundamental para o delineamento e realização dos experimentos, além da análise dos resultados”, disse Maria Augusta Lima.

Léa Medeiros

Divulgação Institucional

 

Os professores Eugênio Oliveira e Maria Augusta Lima

    ARQUIVO(S) ANEXO(S)

  • a
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