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Pesquisadores da UFV participam de artigo publicado na Science Advances

14/03/2019

Início da regeneração da Floresta Amazônica em área de agricultura indígena itinerante

As florestas tropicais abrigam mais de 53 mil espécies de árvores. Isso representa 96% da diversidade de árvores do mundo. Estas florestas hiperdiversas estão ameaçadas pelas altas taxas de desmatamento. Quando uma pastagem ou um cultivo agrícola é abandonado, ele pode ser rapidamente colonizado pela floresta que regenera naturalmente, as chamadas florestas secundárias. Poderiam essas florestas secundárias ajudar a reverter a perda de espécies e trazer as espécies nativas de volta?

Uma rede internacional de ecólogos da América Latina, Estados Unidos e Europa, liderada por pesquisadores da Universidade de Wageningen (Holanda), publicaram esta semana um estudo na revista científica Science Advances em que elucidam o papel das florestas secundárias na conservação da diversidade de árvores tropicais. A rede inventariou as árvores de 1.800 parcelas em florestas tropicais localizadas em 56 áreas de estudo de 10 países da América Latina. Este estudo é um produto da rede colaborativa em florestas secundárias chamada 2ndFOR. A rede envolve 85 pesquisadores de 16 países, e tem como foco estudar a ecologia, dinâmica e biodiversidade das florestas secundárias tropicais e compreender os serviços ambientais que elas proveem em paisagens modificadas pelo homem.

A rede 2ndFOR é coordenada pelos professores Lourens Poorter, Frans Bongers e Danaë Rozendaal, da Universidade de Wageningen. Pesquisadores do Departamento de Engenharia Florestal (DEF) da Universidade Federal de Viçosa também fazem parte desta importante rede, contribuindo em diferentes etapas do processo de pesquisa: da coleta de dados em parcelas de Floresta Amazônica à elaboração de artigos científicos. Da UFV, integram a rede o professor Sebastião Venâncio Martins, coordenador do Laboratório de Restauração Florestal (LARF), o pós-doutorando do LARF Pedro Manuel Villa e o professor Silvio Nolasco de Oliveira Neto.

No artigo Biodiversity recovery of Neotropical secondary forests, os pesquisadores compararam os dados de campo das florestas secundárias de diferentes idades com o de florestas maduras bem conservadas adjacentes. O estudo mostrou que o número de espécies (riqueza) nos fragmentos de florestas regenerantes se recupera em poucas décadas, mas que a composição de espécies pode demorar séculos para se assemelhar às florestas maduras originais ou nunca se recuperar.

A pesquisadora Danaë Rozendaal, líder do estudo, afirmou: “Ficamos impressionados ao descobrir que pode levar apenas cinco décadas para se recuperar a riqueza de espécies que normalmente é encontrada em florestas maduras bem preservadas, e que, em apenas 20 anos de regeneração, 80% do número de espécies já está presente”. De acordo com a pesquisadora, “este resultado enfatiza a importância das florestas secundárias para a conservação da biodiversidade em paisagens modificadas pelo homem”.

Apesar da rápida recuperação do número de espécies, o estudo também mostra que as espécies de árvores encontradas nas florestas regenerantes é normalmente diferente daquelas encontradas nas florestas maduras adjacentes. Após 20 anos de regeneração, apenas 34% das espécies são as mesmas encontradas nas florestas maduras. Portanto, pode demorar séculos até que as florestas secundárias recuperem as mesmas espécies da floresta original, se isso realmente chegar a acontecer.

Para o líder da rede 2ndFOR, professor Lourens Poorter, ainda que as florestas secundárias jovens tenham papel importante na conservação de espécies em paisagens modificadas pelo homem, elas não abrigam muitas das espécies encontradas nas florestas maduras bem conservadas. Portanto, ele recomenda fortemente que ambas as florestas, secundárias e maduras, devem ser preservadas para garantir a conservação da biodiversidade em paisagens modificadas pelo homem.

Os pesquisadores da UFV participantes da rede consideram uma ótima notícia o fato de que a regeneração natural pode restaurar a biodiversidade de árvores relativamente rápido. No entanto, para eles, é fundamental que aconteçam também ações de restauração focadas em espécies típicas de florestas maduras junto à conservação dos remanescentes florestais para garantir a conservação das espécies de árvores tropicais a longo prazo.

O artigo Biodiversity recovery of Neotropical secondary forests está disponível neste link.

Nas imagens abaixo, a foto à esquerda representa a regeneração de mata ciliar na Região Serrana do Rio de Janeiro, projeto LARF-UFV. A da direita é a floresta regenerada em pastagem abandonada na Amazônia.

Sebastião Venâncio/Pedro Villa

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