Campus Viçosa
05/02/2018
Os dados foram coletados por uma rede de monitoramento com termômetros espalhados por 14 pontos
Somente as cidades médias e grandes costumam conhecer as variações de temperaturas que acontecem entre bairros e ou até mesmo entre ruas em um mesmo momento. É o chamado clima urbano, que sofre interferência do asfaltamento e da quantidade de prédios em uma mesma região. Pela primeira vez a cidade de Viçosa vai saber se é influenciada pela malha urbana que não para de crescer. Será?
Viçosa já sabe que nos últimos anos o período de seca está mais prolongado e a estação chuvosa muito concentrada em períodos curtos. É o mesmo que vem acontecendo em toda a região da Zona da Mata Mineira. O município tem duas estações meteorológicas e três pluviométricas, mas as influências da zona urbana nas variações do clima nunca haviam sido acompanhadas. O trabalho coordenado pelo professor Edson Fialho do Laboratório de Biogeografia e Climatologia buscou compreender a distribuição espacial da temperatura do ar no município a partir de uma comparação entre campo e cidade, em situações sazonais de verão e inverno e já rendeu diversos artigos acadêmicos ao grupo de pesquisa do Departamento de Geografia da UFV
A conclusão é que durante o inverno as noites nas ruas do centro da cidade são mais quentes que na área rural. A diferença de temperatura média chega a mais de dois graus. Isso acontece porque onde há mais construções, os prédios fazem sombra nas ruas, mas ficam aquecidos, dissipando o calor mais tarde e aquecendo o clima mesmo quando não há mais incidência de sol. Por exemplo, no inverno, há dias em que não há nenhuma insolação durante o dia na avenida P.H Rolfs, mas as noites nesta região central da cidade são mais quentes porque a energia guardada nas paredes dos prédios e asfalto aquece o ar e mantém o calor nas primeiras horas da noite. As ruas do centro e do Bairro de Fátima são as que mais percebem essa diferença de temperatura. A região conhecida como “Coelhas”, na periferia de Viçosa, é a que esfria mais rapidamente quando a noite chega. O estudo também conclui que o clima nas áreas descobertas e com pouca vegetação na zona rural é mais quente que na urbana entre os meses de maio e agosto, quando há mais insolação e poucas nuvens no céu.
O trabalho foi feito com dados gerados por uma rede de monitoramento com termômetros espalhados por 14 pontos do município, seis deles na área urbana. Segundo o professor Edson os estudos criam uma oportunidade para começar a acompanhar estas variações e refletir sobre o futuro e a qualidade de vida da população. A conclusão é que Viçosa ainda não tem o que a geografia chama de clima urbano, mas está no caminho e isso pode não ser bom para quem mora em áreas mais concentradas.
Para os pesquisadores do Departamento de Geografia, se Viçosa não repensar o seu ordenamento territorial é possível que uma cidade com pouco mais de 70 mil habitantes possa ter problemas que são comuns a cidades médias e grandes. A concentração de regiões muito verticalizadas gera condensação de calor, formação de nuvens e chuvas fortes que não infiltram no solo por causa da impermeabilização das ruas com asfalto, causando alagamentos danosos à população.
Edson Fialho esclarece, no entanto, que as ilhas de calor só se tornam problemas quando se relacionam com outros elementos como concentração de trânsito nas regiões mais condensadas, o que já ocorre nas ruas centrais de Viçosa. “Esperamos que o estudo continue para que a cidade possa acompanhar a evolução das variações climáticas e levar o conforto térmico e a qualidade de vida em consideração ao planejar seu crescimento urbano”.
Leia a íntegra do artigo publicado na Revista de Geografia e Ordenamento de território-Cegot.
Léa Medeiros
Divulgação Institucional
O trabalho é realizado pela equipe do Laboratório de Biogeografia e Climatologia da UFV
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