Campus Viçosa
07/11/2016
Na semana em que governantes do mundo inteiro se reúnem em Marrocos para 22ª Conferência da ONU sobre clima, uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Viçosa alerta para um problema grave em um futuro próximo: o ozônio, presente no ar perto da superfície da Terra, deverá diminuir a produtividade agrícola se as emissões não forem reduzidas. No Brasil, o problema irá afetar a região Centro-Oeste, uma das maiores produtoras de grãos do mundo. Na Ásia e na África, irá agravar ainda mais o problema da segurança alimentar.
A pesquisa, orientada pelo professor Flávio Justino, do Departamento de Engenharia Agrícola, é inédita na América do Sul. Segundo ele, os cientistas já conheciam os efeitos benéficos do ozônio no armazenamento de grãos, mas há poucas pesquisas sobre o efeito do gás na fisiologia das plantas. “Ele reduz a produção de biomassa, ou seja, faz a planta ser menos produtiva”, explica o pesquisador.
Os estudiosos da interação do clima com as plantas também já sabiam que o gás carbônico (CO2), um dos responsáveis pelo aumento na temperatura global, pode beneficiar o crescimento das plantas e aumentar a produtividade. A má notícia, trazida pela pesquisa da UFV, é que a presença do ozônio reduz o efeito positivo do CO2, sobretudo para os cereais que são grandes commodities agrícolas, como milho, trigo, soja e arroz: “o efeito da fertilização do CO2 é menos intenso na presença do ozônio. Os ganhos esperados para o futuro serão menores por causa do ozônio na atmosfera”. Estima-se que, nas próximas décadas, as concentrações de ozônio atinjam o dobro dos índices atuais, por isso as perdas serão tão significativas. De acordo com Flávio Justino, estudos apontam uma redução de cerca de oito toneladas de produção de forragem por hectare.
O Brasil tem pelo menos a metade de ozônio na atmosfera que regiões da Ásia e África Subtropical. Lá, os agricultores já estão percebendo a queda de produtividade causada pelo excesso do gás atmosférico. Na América do Sul, a tendência é de aumento, sobretudo nas proximidades de grandes cidades e regiões onde ainda prevalece a prática de queimadas agrícolas. “Estas regiões são as maiores produtoras de grãos e as que mais sofrerão o impacto do excesso de ozônio na atmosfera”, explica o professor.
As pesquisas da UFV foram conduzidas em plantios de mileto, um cereal muito comum para alimentação na Ásia e na África e usado como forrageira no Brasil. A expectativa dos pesquisadores é de que os resultados sejam semelhantes para cultivos de milho e arroz. Os experimentos serão repetidos no início do próximo ano. Realizada em parceria com pesquisadores da Noruega, Índia e Inglaterra, a pesquisa foi apresentada em outubro em uma conferência sobre interações de mudanças climáticas, poluição atmosférica e agroecossistemas, na Universidade de Oslo, Noruega. Saiba mais sobre o evento e as pesquisas em: http://www.cicero.uio.no/en/CiXPAG
(Léa Medeiros)
As pesquisas aconteceram com plantio de mileto em câmaras de ozônio
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