Campus Viçosa

Pesquisador da UFV participa de experimento com fogo controlado em florestas tropicais

06/09/2016

O estudo quer entender os impactos do fogo na degradação de florestas tropicais

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) liderou, no final de agosto, pesquisas de queima controlada em áreas de floresta da Fazenda Tanguro, em Querência (MT), na região do Alto Xingu. O estudo acontece desde 2004 e tem como objetivo entender os impactos do fogo na degradação de florestas tropicais.

O experimento reuniu pesquisadores e estudantes de diversas instituições, dentre elas a UFV, representada pelo pós-doutorando em Ecologia Lucas Paolucci, do Departamento de Biologia Geral (DBG), sob supervisão do professor José Henrique Schoereder. Lucas é bolsista vinculado a um dos projetos do IPAM, que busca entender a complexidade entre a produção de alimentos, o clima e o meio ambiente na fronteira agrícola brasileira. Com a participação nesta pesquisa, ele dará continuidade ao estudo desenvolvido durante o doutorado - igualmente realizado na UFV – para o qual coletou amostras, também na Fazenda Tanguro, após um fogo experimental, em 2013.

O pós-doutorando conta que, naquela ocasião, chegou-se à conclusão de que basta um único incêndio no sub-bosque da Amazônia para que ocorram efeitos negativos severos na comunidade de formigas, consideradas importantes bioindicadores de distúrbios sobre outros grupos da fauna. Estes impactos negativos causaram, segundo Lucas, uma redução na eficiência da dispersão de sementes, que é um serviço ecossistêmico prestado pelas formigas. Ele explica que a dispersão é importante porque aumenta o fitness (valor adaptativo) das plantas beneficiadas. Isso porque ao afastar as sementes da planta mãe há uma menor competição entre as plântulas. Além disso, ao diminuir a concentração de sementes em um mesmo local, as taxas de predação delas são menores.

Na mesma pesquisa, percebeu-se que incêndios repetidos no sub-bosque da floresta levam a uma invasão de espécies de formigas generalistas associadas a habitats abertos. Estes resultados, abordados no segundo capítulo da tese de Lucas, levaram os pesquisadores a concluir que tais incêndios têm causado um processo de "savanização" não apenas para a comunidade vegetal, mas também para a fauna associada.

Para Lucas, é “uma oportunidade única participar da pesquisa do IPAM”. Desta vez, “queremos investigar até que ponto este sistema é resiliente, ou seja, se houve uma recuperação da eficiência da dispersão de sementes após três anos decorridos do primeiro incêndio. Iremos testar também se há um impacto cumulativo do fogo neste serviço; se após o segundo fogo haverá uma queda maior na eficiência da dispersão de formigas do que aquela observada em 2013”. O que se busca, com estes resultados, é “entender melhor quais os impactos de incêndios frequentes no sub-bosque não apenas na estrutura da floresta, mas também sobre a fauna associada e sobre os serviços ecossistêmicos desempenhados por ela”.

Pesquisa
O estudo realizado na Fazenda Tanguro é o maior e o mais longo experimento com fogo controlado em florestas tropicais do mundo. Ele analisa as consequências da transformação da paisagem e a fragmentação do habitat. O desmatamento afeta o clima local, aumentando a temperatura da superfície e reduzindo a quantidade de água reciclada na atmosfera por florestas. O tempo fica mais seco, o que por sua vez aumenta a frequência, a intensidade e a extensão de incêndios florestais na região.

Os dados analisados até o momento permitem concluir que florestas de transição afetadas pelo fogo tornam-se suscetíveis à invasão de gramíneas. Elas dificultam a regeneração natural da vegetação e servem de combustível extra para novas queimadas. Além disso, a mortalidade de árvores e cipós aumenta 80% e 120%, respectivamente, em relação à área que nunca foi queimada.

Este ano, os participantes da pesquisa fizeram medições antes, durante e depois do experimento. Antes do fogo se mediu a serrapilheira (matéria morta no chão, como folhas secas) e a umidade de cada parcela que seria queimada. Durante as queimas, foram medidos os dados de intensidade do fogo - altura, largura e comprimento das chamas -, além da taxa de espalhamento (tempo gasto para percorrer 50 centímetros) e a velocidade do vento. No pós-fogo, mapeou-se a área queimada, quantificando novamente a serrapilheira. Os dados coletados manualmente e com a ajuda de ferramentas, como drones e lidar, vão ajudar a equipe compreender com mais detalhes como a recorrência do fogo afeta a capacidade de regeneração da floresta.

Além da UFV, integram a pesquisa as instituições Woods Hole Research Center (WHRC), Instituto Max Planck, Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e Universidade Federal de Goiás (UFG). Vale destacar que, até o momento, o projeto gerou 13 teses de doutorado, 10 dissertações de mestrado e 37 artigos em revistas científicas, um deles de Lucas Paolucci. 

(Divisão de Jornalismo)

Com esta pesquisa, Lucas dará continuidade ao estudo desenvolvido durante o doutorado