Campus Viçosa

Estudo revela que acompanhamento ambulatorial garante boa saúde aos bebês prematuros

30/08/2016

Brunnella (quinta da esq. para dir.) integra a equipe interdisciplinar do CEAE

Um estudo realizado pela professora e médica pediatra Brunnella Alcantara Chagas de Freitas, do Departamento de Medicina e Enfermagem (DEM) da UFV, revelou que o acompanhamento ambulatorial (follow-up) de bebês prematuros pode não só reduzir o risco de morte, como também garantir a eles mais qualidade de vida. A pesquisa está na tese Restrição do crescimento extrauterino, amamentação e avaliação da adesão e influência da suplementação com micronutrientes nas prevalências de deficiências de ferro, zinco e vitamina A em prematuros, defendida no Programa de Pós-graduação em Ciência da Nutrição do Departamento de Nutrição e Saúde da UFV. Sob orientação da professora Sylvia do Carmo Castro Franceschini, Brunnella fez um estudo de coorte para avaliar o aleitamento materno e verificar a deficiência de micronutrientes, como ferro, vitamina A e zinco nos prematuros.

Os bebês estudados foram os assistidos pelo Centro Estadual de Atenção Especializada (Ceae), antigo Centro Viva Vida (CVV) de Viçosa, que visa à saúde infantil por meio de um atendimento interdisciplinar que envolve profissionais de pediatria, enfermagem, nutrição, fisioterapia, assistência social e psicologia. Durante um ano e meio de estudo, Brunnella avaliou o crescimento, o aleitamento materno e a adesão de prematuros à suplementação de micronutrientes.

Segundo conta, foi um estudo observacional baseado nas recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria, que seguiu a rotina construída desde o início do ambulatório: “não foi feita nenhuma intervenção diferente do que seria preconizado”. Isso significa que os bebês foram acompanhados dentro das rotinas de atendimento e de consultas realizadas pela equipe do Ceae, que estimula o aleitamento materno, orienta sobre a introdução adequada de alimentação complementar e a suplementação de micronutrientes.

A professora do DEM acompanhou os bebês nascidos em 2014 até completarem seis meses de idade corrigida para prematuridade. Ela realizou ainda uma avaliação sociodemográfica para saber, por exemplo, se questões de gênero e classe social influenciam na elevada carência de micronutrientes revelada nos exames iniciais.

Os resultados obtidos pelo estudo chamam a atenção para alguns fatos. O primeiro deles – e talvez o mais importante - é que o não acompanhamento ambulatorial pode levar ao desenvolvimento inadequado dos prematuros. Já está comprovado, por exemplo, que essas crianças podem ter problemas cognitivos, com dificuldades futuras na escola, em função da deficiência de ferro, que provoca anemia. Os distúrbios visuais e de crescimento também são comuns entre os prematuros, assim como sobrepeso e hipertensão. Todos esses riscos que, conforme Brunnella, acontecem com os prematuros, podem ser aumentados no futuro. Por isso, a importância do acompanhamento para monitorar, prevenir e tratar os fatores de risco.

Outro fato discutido diz respeito à maior ênfase dada pelos serviços de acompanhamento e estudos aos prematuros nascidos com menos de 32 semanas e 1.500 gramas, negligenciando-se os demais. A médica observou, em seu estudo, que os prematuros acima desta idade gestacional e deste peso também estão sujeitos às morbidades, à mortalidade, às deficiências de micronutrientes e às dificuldades no aleitamento materno. Por isso, necessitam igualmente de serem estudados e acompanhados em serviços de referência.

A professora do DEM constatou ainda que a deficiência de micronutrientes verificada nos prematuros não é influenciada pela idade gestacional e pelo peso ao nascer, mas pela baixa escolaridade das mães (menos de oito anos). Esse fator afeta sobremaneira a reduzida adesão ao uso de suplementos. Por isso, o acompanhamento dos prematuros, na avaliação da médica, é importante também para se pensar estratégias que façam as mães entender a importância e a necessidade do uso adequado dos medicamentos.

Interesse
O interesse de Brunnella pelos prematuros vem desde 2007, quando começou a trabalhar em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), onde despertou para questionamentos como: “para onde vão os bebês que saem da UTIN?” “Por que não há um serviço especializado para acompanhar e monitorar essas crianças?”. A professora conta que há poucas informações sobre os desfechos de vida dos prematuros quando saem dos hospitais. “Há poucos serviços de seguimento, de follow-up, no Brasil, diferentemente de outros países, como Austrália, Canadá e Estados Unidos. Lá existem estudos de acompanhamento de prematuros que já são adolescentes e até jovens adultos. O Brasil ainda está engatinhando nesse serviço”, avalia. Por essa razão, seus estudos contribuem como referências importantes para o país, e vêm sendo valorizados por periódicos da área médica.

Em abril deste ano, por exemplo, uma das pesquisas da professora Brunnella teve repercussão nacional ao ser publicada na Revista Paulista de Pediatria, recebendo destaque em seu editorial Aleitamento materno em prematuros: política pública na atenção primária. Ali são enfatizadas as maiores taxas de aleitamento materno entre os prematuros acompanhados pela equipe interprofissional do Ceae quando comparadas às taxas de aleitamento de recém-nascidos no Brasil. No texto, o aleitamento materno em prematuros de Viçosa foi citado como exemplo a ser seguido no Brasil. 

 

(Adriana Passos - Foto: Daniel Sotto Maior)