Campus Viçosa

Pesquisadores vão à região pouco conhecida da Antártica para estudar mudanças climáticas globais

04/04/2016

Pesquisadores chegam à Ilha James Ross buscando entender o aquecimento global

O núcleo de pesquisa Terrantar da Universidade Federal de Viçosa está completando 15 anos com uma característica típica desta idade: o impulso de ir além para descobrir um pouco mais, ainda que seja preciso arriscar-se em novas aventuras no gelo. Em expedições anuais à Antártica, o continente gelado, o núcleo desenvolve estudos sistemáticos sobre a resposta dos ecossistemas terrestres às mudanças climáticas observando as relações do solo com a vegetação. Desta vez, três pesquisadores da UFV chegaram à ilha de James Ross, região pouquíssimo conhecida e inédita para estudos sobre solos gelados (permafrost) e mudanças climáticas.

O Núcleo Terrantar faz parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera, que reúne pesquisadores brasileiros que realizam estudos no Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Os pesquisadores do Departamento de Solos da UFV, liderados pelos professores Carlos Ernesto Schaefer e Marcio Francelino, participam do Proantar desde 2011. O programa já levou dezenas de pesquisadores ao continente gelado em busca de evidências e informações que estão ajudando a entender o aquecimento global. “Já formamos 16 doutores e pelo menos 12 mestres em assuntos antárticos, que hoje integram um grupo pioneiro e engajado em estudos de mudanças climáticas em ambientes polares e suas conexões com Brasil. Estes pesquisadores trabalham em várias instituições que dão continuidade ao trabalho iniciado há 15 anos, colocando o Brasil em posição de destaque na produção científica sobre a Antártica”, diz o professor Schaefer.

A Antártica é uma região de grande sensibilidade climática para registrar e guardar arquivos preciosos do clima global, permitindo estudar as relações entre aquecimento global, degelo e aumento do nível do mar, um dos focos do projeto. Com o apoio da Marinha, pesquisadores da UFV e de outras instituições brasileiras aproveitam o verão Antártico para realizar pesquisas contínuas.

Nestes 15 anos, os pesquisadores da UFV já instalaram 26 sítios permanentes de estudos sobre mudanças climáticas na Antártica. Neles, estão sensores que emitem dados sobre temperatura e umidade a cada hora. A cada ano é preciso visitar os sítios para manutenção dos sensores e para coletar dados nos locais onde não é possível enviá-los por satélite. Para isso, todos os anos, os pesquisadores ficam de um a dois meses na Antártica. Mas este ano foi diferente.

A novidade é que a presença de pouco gelo marinho e o descongelamento do mar permitiram, finalmente, após cinco anos de espera, que o professor Carlos, acompanhado dos pesquisadores Eduardo Senra e Mayara de Paula, chegasse à Ilha de James Ross, no mar de Weddell, do outro lado da península e muito distante da Ilha Rei Jorge, onde ficava a estação antártica brasileira antes do incêndio que a destruiu, em 2012. “A James Ross é a nossa cereja do bolo. É um local geologicamente único e o lugar que faltava para cobrir todo o gradiente climático possível da península Antártica”, conta Carlos Schaefer.

O projeto inicial era permanecer na ilha instalando sensores e coletando material de pesquisa por apenas alguns dias, mas o professor Schaefer relata que uma série de contratempos impediu que o navio da marinha brasileira resgatasse a equipe na data planejada. Por isso, a equipe teve que esperar um mês, acampada e sobrevivendo apenas com provisões que haviam levado. Valeu a pena! Além de aprofundar os estudos da região, os três brasileiros e outros dois alemães, que fazem parte da equipe de Schaefer, ajudaram outros sete paleontólogos do Museu Nacional do Rio de Janeiro que estavam na expedição à caça de fósseis. “Fomos resgatados quase um mês depois da data planejada já com o mar congelando e com nevascas que tornavam ainda mais difícil nossa estada na Ilha, mas deu tudo certo. Saímos com segurança e valeu a pena todo o sacrifício”.

Schaefer explica que a ilha James Ross é formada por um conjunto de rochas vulcânicas marinhas atípicas e clima quase desértico. Lá, o clima e a vegetação não favorecem o habitat de animais como focas e pinguins. Por causa do clima seco, os pesquisadores esperavam encontrar uma região com poucas plantas, mas foram surpreendidos com áreas de vegetação exuberante. “Nós queremos entender porque os substratos vulcânicos favorecem o desenvolvimento da vegetação, apesar do clima desfavorável. Este é um dos enigmas que a tese de doutorado da pesquisadora Mayara de Paula vai ajudar a esclarecer com as amostras que coletamos no local”.

No final de março, o jornal Folha de S. Paulo dedicou um caderno inteiro à expedição dos pesquisadores à Ilha James Ross, que aconteceu nos meses de janeiro e fevereiro. Para ler a reportagem do jornalista Marcelo Leite, clique aqui.

 

(Léa Medeiros)