Campus Viçosa

Artigo de pesquisadores da UFV é publicado na Revista Nature

06/03/2015

Elizabeth Fontes coordenou trabalho realizado por equipe do INCT Planta-Praga

No Brasil, ainda são poucos os pesquisadores que têm no currículo um trabalho científico publicado na Nature, uma das mais antigas e prestigiadas revistas científicas do planeta, criada em 1869. De maneira geral, os nomes dos brasileiros que já participaram da revista estão ligados a redes de pesquisas internacionais. A UFV agora já pode se orgulhar de ter uma equipe de pesquisadores entre as poucas que conseguem publicar no periódico, que tem o maior fator de impacto no mundo científico. O trabalho, coordenado pela professora Elizabeth Pacheco Batista Fontes, está na edição online, de 23 de fevereiro, e ainda não tem data para edição impressa. 

As pesquisas que geraram o artigo revelam um mecanismo que as plantas usam para resistir à infecção por begomovírus, um dos maiores e mais agressivos grupos de vírus de plantas economicamente relevantes como as hortaliças, por exemplo. Segundo a professora Elizabeth, o impacto científico é grande porque a equipe conseguiu identificar genes novos e ainda decifrar mecanismos moleculares de defesa que eram inéditos no conhecimento da interação das plantas com esta classe de vírus.

A descoberta pode ser aplicada a outras plantas e também abre caminho para que a engenharia genética produza variedades mais resistentes. A professora Elizabeth explica que era um desafio para a ciência entender como funcionam os mecanismos moleculares que asseguram imunidade às plantas e acionam sistemas imunes de defesa para prevenirem infecção. Os estudos foram liderados por ela, que é professora do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, e pela professora Anésia Aparecida dos Santos, do Departamento de Biologia Geral.

As descobertas foram feitas nos laboratórios do Instituto de Pesquisa Aplicada à Agropecuária (Bioagro) da UFV, onde funciona a sede do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Interações Plantas-Praga (INCT Praga/Planta), também coordenado pela professora Elizabeth. Ela explica que as pesquisas revelam que “a fosforilação de um receptor imune localizado na membrana plasmática, designado NIK1 (NSP-interactingprotein), promove a translocação da proteína ribossomal L10 para o núcleo, onde ela interage com um fator transcricional, designado LIMYB (L10-interacting Mybdomain-containingprotein).

No núcleo, L10 e LIMYB inibem a expressão de genes que codificam proteínas da maquinaria de tradução de células vegetais, resultando na supressão global de síntese de proteínas. Assim, com a ativação do receptor imune NIK1, os begomovirus não conseguem superar os mecanismos regulatórios de tradução das células hospedeiras e não sintetizam com eficiência suas proteínas necessárias para infecção. Entretanto, em interações compatíveis entre begomovírus e seus hospedeiros (tomateiro, feijoeiro, etc), uma proteína viral, designada NSP, suprime a atividade do receptor NIK1 superando o mecanismo de defesa da planta e causando doenças severas”.

O estudante de doutorado do Programa de Pós-graduação em Bioquímica Agrícola João Paulo Batista Machado, que divide a primeira autoria do trabalho com a estudante do Programa de Pós-graduação em Genética e Melhoramento Cristiane Zorzatto, afirma também que, além de contribuições científicas relevantes, os resultados dessa pesquisa indicam estratégias moleculares para aumento de resistência de tomateiros a begomovírus por meio de mutações em NIK1 inseridas no genoma de tomateiros. Esta estratégia de tolerância foi testada com êxito em tomateiros e os resultados recentemente publicados em PlantBiotechnologyJournal (doi: 10.1111/pbi.12349), outro periódico científico de grande relevância internacional.  A pesquisa foi financiada pelo INCT Planta-Praga.

Também contribuíram para o trabalho os seguintes pesquisadores associados ao INCT em Interações Planta-Praga: o professor do Departamento de Zootecnia da UFV Fabyano Silva; o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Gilberto Sachetto-Martins; a professora Joanne Chory, do Salk Institute for BiologicalStudies; os pós-doutores da UFV Otávio Brustolini, MichitoDeguchi, Welison Pereira, Kelly Nascimento, Pedro Reis, e os estudantes de pós-graduação e iniciação científica da UFV, Kênia Lopes, Iara Calil, Virgílio Loriato, Bianca Gouveia e Marcos Silva.

Para o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFV, Eduardo Mizubuti, a publicação é motivo de orgulho não apenas para a Universidade, mas para a ciência brasileira.

 

(Léa Medeiros - Foto: Daniel Sotto Maior)