Campus Viçosa

Seminário debate sustentabilidade ambiental e econômica da agricultura de grande escala

13/03/2014

A UFV promoveu, nos dias 12 e 13 de março, o I Seminário Internacional sobre Sustentabilidade da Agricultura na Grande Escala. Para o secretário nacional de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Nobre, que participou da abertura, esse foi o primeiro evento realizado no Brasil para discutir os avanços científicos para o desenvolvimento sustentável desse tipo de agricultura.

O evento tratou da sustentabilidade ambiental e econômica da agricultura no contexto complexo das mudanças climáticas, e reuniu estudantes e pesquisadores de várias instituições e países em palestras e debates. Segundo o pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da UFV, Eduardo Mizubuti, que abriu oficialmente o Seminário, temas como sustentabilidade e mudanças climáticas são os mais demandados em projetos de parceria para internacionalização da Universidade.

De acordo com Carlos Nobre, a agricultura mundial ainda não é sustentável e o Brasil está dando os primeiros passos no enfrentamento do desafio de garantir a segurança alimentar planetária nas próximas décadas. “Só o conhecimento científico será capaz de subsidiar planejamentos e ações públicas capazes de intensificar a produtividade sem expandir fronteiras ou desgastar ainda mais recursos naturais como água e solo”.

Para dar conta de prever o que acontecerá ao clima no planeta, os cientistas usam modelos matemáticos complexos com muitas variáveis capazes de simular possíveis cenários de consequências do aquecimento global na agricultura. Na avaliação do professor Marcos Heil Costa, coordenador do Seminário e líder do Grupo de Pesquisas de Interação Biosfera Atmosfera da UFV, a agricultura do futuro será muito diferente do que é atualmente. A população mundial deverá crescer de sete para dez bilhões de pessoas, demandando cada vez mais produtos agrícolas como alimentos, combustíveis fosseis, fibras e energia. Os eventos climáticos extremos com ondas de frio e calor serão mais constantes. A distribuição de chuvas deverá ser alterada, afetando a produtividade agrícola e, consequentemente, o preço dos alimentos e a distribuição de renda. “Estudos demonstram que não é tão simples prever o aumento de oferta de alimentos para uma população crescente porque as mudanças no clima vão interferir nas projeções de segurança alimentar”, disse o professor Heil.

Vários outros palestrantes alertaram para os perigos do aumento da produção de alimentos expandindo as fronteiras agrícolas brasileiras para a região Amazônica. Isso alteraria o regime de chuvas, agravando as mudanças climáticas. Ainda segundo o professor Marcos Heil, o conhecimento científico tem que caminhar junto com políticas públicas para mitigar a emissão de gases causadores do efeito estufa, estimular a agricultura sustentável, aumentar a eficiência agrícola com tecnologia apropriada e reduzir o desperdício de alimentos. Estas são também as metas que diversos países, incluindo o Brasil, traçaram nas conferências promovidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas.

Embora muitos países sejam criticados por não cumprir as metas de reduzir a emissão de gases do efeito estufa, os palestrantes do evento se mostraram otimistas em relação a algumas políticas públicas adotadas pelo Brasil nos últimos anos, como a queda do desmatamento na Amazônia e o Plano Nacional de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono. Para o ex-secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Eduardo Assad, a pesquisa científica no Brasil é competente para produzir cenários e adaptar os sistemas de produção às novas características climáticas que estão acontecendo. “Falta transferir tecnologia para o campo”, afirmou.

Todos os palestrantes comentaram sobre a necessidade de o Brasil investir na recuperação de solos e pastagens, na integração da lavoura com a pecuária, na melhoria da eficiência energética, no pagamento de serviços ambientais, na regulamentação da política fundiária e na educação para o consumo responsável. Os especialistas também concordam em sugerir que o Brasil invista nem tornar a biodiversidade mais uma opção econômica de grande vulto, desde que de forma sustentável. Como disse Carlos Nobre, “os olhos do mundo estão voltados para o Brasil em função do nosso grande estoque potencial agrícola. Nós temos condições de liderar ações, políticas e produção do conhecimento. Esse é o nosso desafio”.

Na primeira fotografia, da esq. para a dir., o coordenador do evento, professor Marcos Heil Costa, e o Secretário Nacional de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre. Ao lado, o público de cerca de 100 pessoas.

 

(Léa Medeiros)

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