Campus Viçosa

Pesquisa avalia chuvas intensas e desastres naturais nas serras do Rio de Janeiro e Santa Catarina

08/03/2017

As pesquisas de Álvaro (dir.) vêm sendo orientadas pelo professor Justino

Para a ciência, não há mais dúvida de que o aquecimento global tem aumentado o risco e a incidência de catástrofes naturais. Como a atmosfera mais quente amplia a capacidade de reter vapor d’água, a consequência são nuvens mais carregadas e maior volume de chuva. Para entender, contudo, a relação entre essas catástrofes e a variação climática, é preciso compreender, dentre outros aspectos, a frequência e a magnitude das precipitações. E foi isso que o doutorando em Meteorologia Aplicada Álvaro Javier Ávila Díaz realizou em sua pesquisa de mestrado na UFV, defendida em 2016, sob orientação do professor Flávio Justino, do Departamento de Engenharia Agrícola.

O estudo teve a participação de pesquisadores da Ohio State University e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e resultou na publicação, em dezembro, de um artigo na revista norte-americana Environmental Research Letters. 

Álvaro fez um estudo comparativo das regiões serranas do Rio de Janeiro e de Santa Catarina para entender as precipitações ocorridas ali e verificar a relação delas com as inundações bruscas e os deslizamentos de terras - tão frequentes nos noticiários nas últimas décadas. Durante o estudo, foram investigadas as tendências dos eventos de precipitação extrema nos últimos 37 anos. Segundo a pesquisa, durante esse período a intensidade e a frequência de eventos extremos de chuva aumentaram naqueles locais.

Outro dado revelado diz respeito ao número de enchentes e desmoronamentos que também cresceu em função do aumento da intensidade da chuva máxima anual em 24 horas e em cinco dias consecutivos. Segundo Álvaro, há correlações estatisticamente significativas de chuvas intensas em um período de 24 horas, precedidas geralmente por cinco dias de chuvas leves. Embora essa correlação tenha sido constatada nas duas regiões, suas consequências são mais graves no Rio de Janeiro e a razão, segundo o pesquisador, está relacionada à diferença populacional entre as regiões. Enquanto, em 2010, a Região Serrana de Santa Catarina registrava 18 habitantes por quilômetro quadrado, a do Rio abrigava 108 pessoas em área equivalente.

O professor Flávio Justino conta que a pesquisa de Álvaro trouxe algumas surpresas. Uma delas é esse efeito da população nas análises. Ele lembra que “quando se tem uma política pública correta, há como mitigar ou adaptar a mudança climática. Neste caso, não há nenhuma política voltada para a ocupação da cidade”. Outra constatação, diferentemente do que a maioria pensa, é a de que as cidades mais altas têm sofrido impacto menor do que as mais baixas. “Como as cidades mais altas têm muito menos umidade, a precipitação é de menor alcance; já aquelas mais ao nível do mar sofrem maior impacto com as precipitações extremas. Além da chuva, elas também recebem a água das cidades mais altas”, explica.

Justino considera importante o fato de a pesquisa ter identificado parâmetros cruciais que poderão ser repassados para gestores de municípios como indicativos de desastres naturais. Ele explica que “quando se tem um monitoramento na região e se observa, por exemplo, que a chuva em cinco dias e a de um dia estão se aproximando do valor limite, poderá ser emitido um alerta. Isso será possível, levando-se em conta que, nos últimos 37 anos, chuvas acima desse valor, acumuladas em cinco dias, estiveram associadas com os desastres naturais analisados”.

Para os pesquisadores, os resultados obtidos com o estudo poderão ser utilizados pelos tomadores de decisão para estabelecer medidas preventivas. Os dados contribuem para o alerta precoce de desastres naturais e, consequentemente, para a melhoria da prevenção de desastres e a capacidade de mitigação deles. O objetivo de Álvaro, durante o doutorado, é estender o estudo para a região montanhosa da Colômbia (Andes Colombianos), país onde nasceu e se formou em Engenharia Agrícola, na Escola de Engenharia de Recursos Naturais e Meio Ambiente, da Universidad del Valle-Colômbia. 

(Divisão de Jornalismo)