Campus Viçosa

Pesquisa revela que degelo na Antártica vai reduzir chuvas no Brasil

16/12/2014

Na semana em que a Conferência Mundial sobre Clima, realizada no Peru, termina sem grandes avanços na política de redução na emissão de gases do efeito estufa, a ciência dá mais um passo para mostrar a urgência em conter a ritmo do aquecimento global. Um artigo publicado numa das mais importantes revistas científicas do mundo sobre o tema, a Journal of Climate (EUA), mostra que o degelo na Antártica pode mudar o padrão dos ventos no Hemisfério Sul e interferir na quantidade de chuvas em todo o mundo e particularmente no Sudeste do Brasil.

O artigo The Large-scale Climate in Response to the Retreat of the West Antarctic Ice Sheet tem como primeiro autor o professor do Departamento de Engenharia Agrícola da UFV Flávio Justino e foi escrito em parceria com pesquisadores da Itália e da Noruega. O professor Flávio explica que a porção a oeste da Península Antártica, que corresponde a 30% de todo o gelo da região, não se apoia sobre solos e é mais sensível ao derretimento. Os pesquisadores já sabem que esta porção da calota polar está derretendo. Em 2014, o ritmo de degelo foi o maior dos últimos anos. O artigo mostra as consequências globais do derretimento usando modelagem matemática, uma técnica capaz de cruzar milhares de dados climáticos para predizer o futuro.

“O derretimento do gelo muda o perfil dos ventos e enfraquece os sistemas de frentes frias geradas a partir da Antártica e que provocam as chuvas, sobretudo no hemisfério Sul”, diz Flávio Justino. Como o clima do planeta é integrado, espera-se mudanças também em outras regiões. O professor explica ainda que esta porção da Antártica já derreteu há um milhão de anos por fatores naturais. Agora, as causas são antropogênicas e o ritmo do degelo vai depender do aquecimento global.

A pesquisa utiliza dados de satélite e modelos climáticos de todo o mundo. A Antártica é sempre uma referência para estudos do clima porque é onde as primeiras mudanças são mais facilmente perceptíveis e os dados podem ser usados para modelar efeitos em outras partes do globo. O artigo, disponível no arquivo anexado, já está na revista on-line e será publicado em breve em edição impressa. A Journal of Climate é a revista científica mais importante do mundo para publicação de artigos sobre clima.

 

(Léa Medeiros)

Simulações de variação de temperaturas globais a partir do degelo Antártico