Campus Viçosa

Pesquisadores discutem tecnologias e pesquisas para alimentação neonatal

21/08/2014

A reunião abriu caminhos para o fortalecimento institucional de uma parceria

Pesquisadores da UFV e do Instituto Fernandes Filgueiras (IFF), vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), estiveram reunidos, no último sábado (16), no Departamento de Tecnologia de Alimentos (DTA). Os objetivos foram discutir e definir temas de pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias relacionadas à alimentação neonatal. O encontro, coordenado pelo professor José Benício Paes Chaves, se integra às ações que vêm sendo realizadas pelo DTA, em conjunto com os departamentos de Nutrição e Saúde, Solos e Economia Doméstica, dentro das atividades do Instituto de Estudos e Pesquisas em Fortificação de Alimentos e Combate à Fome Oculta (IPAF).

Motivada por uma chamada pública do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que também envolverá o Hospital Maternidade Odete Valadares, de Belo Horizonte, a reunião abriu caminhos para o fortalecimento institucional de uma parceria que já existe há anos por meio de projetos individuais. Com isso, de acordo com a professora do DTA Célia Lúcia Ferreira, ampliam-se as possibilidades de os profissionais das três instituições envolvidas se qualificarem, desenvolvendo pesquisas aplicadas à sua área de interesse, que são os bancos de leite humano, e, consequentemente, fechar “os vazios de conhecimento” que ainda existem. Esses vazios aos quais a professora se refere, lembrados também pelo coordenador da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, José Aprígio Guerra de Almeida, contribuem para que 3,5 milhões de neonatais morram diariamente no mundo.

José Aprígio, que também é secretário executivo do Programa Ibero-americano de Bancos de Leite, contou que a mortalidade neonatal é um problema enfrentado por todos os países. Dentro da mortalidade infantil, a neonatal é considerada a mais difícil de ser solucionada por se tratar de um problema multicausal. Por isso, a necessidade de se pensar soluções como as que foram discutidas no sábado. Os pesquisadores partiram do consenso de que é preciso desenvolver um alimento com qualidade e quantidade necessárias para permitir que os recém-nascidos, sobretudo, os prematuros com baixo peso, que precisam ficar em UTIs neonatais, tenham o seu estado de saúde recuperado e condições de seguir vivendo.

De acordo com João Aprígio, essas crianças geralmente não recebem o leite de suas mães que, em função da situação de estresse que vivem, muitas vezes deixam de produzi-lo. Neste caso, o recurso é lançar mão do leite de doadoras, que não tem a composição adequada para aquela criança. “O que a gente tem que fazer é tentar encontrar soluções, pegando esse leite humano e mexer na composição dele para se adequar à necessidade da criança. Como se fosse mimetizado aquilo que a natureza produziria”, explicou.

Esperança
Para a pediatra Maria Elisabeth Lopes Moreira, neonatologista do Instituto Fernandes Filgueiras, a reunião representou a “esperança de ver resolvida uma questão de saúde muito importante para os recém-nascidos” dos quais ela cuida todos os dias. Segundo a pediatra, embora os prematuros venham sobrevivendo, ao longo dos anos, em função de avanços tecnológicos, ainda não foi desenvolvida uma forma de se usar o leite da própria mãe e principalmente de doadoras de maneira adequada para fornecer uma boa nutrição a esses bebês.

De acordo com Maria Elisabeth, os bebês estão saindo desnutridos das unidades neonatais. Isso traz repercussões na sua saúde, em curto prazo, por predispô-los a uma maior incidência de patologias, como infecção e doenças respiratórias e, em médio prazo, porque vai influenciar no seu desenvolvimento e, consequentemente, no aprendizado na idade escolar. Há consequências também, em longo prazo, uma vez que a má nutrição vai predispor esse bebê, no futuro, à maior incidência de síndromes metabólicas, como diabetes, obesidade e hipertensão.

Por essas razões, Maria Elisabeth justificou: “para mim, como profissional, a parceria da UFV com o Instituto Filgueiras e a Maternidade Odete Valadares representa a esperança de trazer para a beira do leito o conhecimento que a engenharia é capaz de produzir no dia a dia”. João Aprígio também considera que o encontro representou muito para a perspectiva da saúde coletiva do país.

Ele, que é ex-aluno de graduação e mestrado da Universidade, lembrou que foi, nos laboratórios do DTA, que plantou a semente que permitiu construir toda a rede onde hoje atua. “É muito bom poder dizer que os ganhos que temos hoje são decorrentes da semente plantada na UFV”. Contudo, completou, “tenho orgulho de poder voltar a minha casa de origem e dizer: as soluções que construímos há 30 anos deram conta até hoje. Só que, agora, a ciência evoluiu, a medicina evoluiu. Sobrevivem crianças que não sobreviviam antes e hoje temos que voltar e fazer o movimento que fizemos há 30 anos para que esse processo continue em franca expansão e qualificação”.

Vale destacar que o Brasil tem, atualmente, 214 bancos de leite humano. Eles integram a rede ibero-americana que conta com 273 bancos operando. Juntos, entre 2009 e 2103, eles atenderam a mais de um milhão de recém-nascidos. Anualmente, são quase três milhões de atendimentos a mulheres. Segundo João Aprígio, o maior número de projetos de cooperação internacional em saúde do Estado brasileiro, via Agência Brasileira de Cooperação, do Ministério das Relações Exteriores, é da Rede de Bancos de Leite Humano. 

 

(Adriana Passos)