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Modificação induzida por parasitoides é tema de artigo de professor da UFV em revista internacional de Ecologia Comportamental

24/01/2024

As modificações no comportamento de insetos e aranhas parasitados são frequentemente consideradas notáveis adaptações de certos parasitas e parasitoides. “Essas interações capturam nossa imaginação”, afirma o professor Thiago Kloss, do Departamento de Biologia Geral da UFV. Ele exemplifica com a série The Last of Us, que apresenta humanos manifestando alterações no comportamento após serem infectados por um fungo mutante. O que muitas pessoas não sabem é que a ciência raramente explora a verdadeira vantagem dessas alterações para os parasitas.

Um artigo publicado, este mês, na importante revista Behavioral Ecology and Sociobiology, em que o professor Thiago assina como primeiro autor, revela um caso curioso de parasitoides que induzem alterações comportamentais. Ele ocorre na base de grandes árvores da Mata Atlântica, entre aranhas minúsculas da espécie Cryptachaea migrans e vespas de Darwin da espécie Zatypota alborhombarta. Essa aranha constrói uma pequena teia, constituída por um abrigo foliar que é suspenso por um denso fio de sustentação. Do abrigo, local onde a aranha fica protegida, diversos fios verticais se conectam ao solo. Na base destes fios verticais, são observadas pequenas gotículas pegajosas, eficientes para reter presas, como formigas, que caminham pelo chão da floresta.

Montagem de 4 fotos, já decritas na legenda. O parasitóide é um inseto alado preto e laranja com patas brancas e longas antenas. 1a – Ciclo de vida do parasitoide Zatypota alborhombarta. Larva parasitando um indivíduo de Cryptachaea migrans. 2a Larva do parasitoide dentro do abrigo da teia após matar a aranha hospedeira. 3a - Pupa do parasitoide Zatypota alborhombarta dentro do abrigo da teia. 4a - Fêmea adulta do parasitoide Zatypota alborhombarta

Impulsionado pela curiosidade de investigar como as características das teias de aranhas hospedeiras poderiam impactar a sobrevivência dos seus parasitoides manipuladores, as vespas, o professor Thiago Kloss liderou uma pesquisa, em colaboração com o professor Marcelo Gonzaga, da Universidade de Uberlândia, e as pesquisadoras Thairine Mendes Pereira, pós-doutoranda do Departamento de Entomologia da UFV, e Stefany Almeida, da Escola Superior São Francisco de Assis, do Espírito Santo.

No estudo realizado na Estação Biológica de Santa Lúcia, na cidade de Santa Teresa (ES), eles observaram que as aranhas parasitadas reforçam o fio de sustentação do abrigo de suas teias e aumentam o reforço dos fios verticais antes de serem mortas pelas larvas das vespas. Esses achados inicialmente sugeriram que as modificações na teia poderiam aumentar a segurança das pupas (fase de amadurecimento dos parasitoides) durante o desenvolvimento dentro do abrigo modificado pelas aranhas.

No entanto, para surpresa dos pesquisadores, o reforço observado na estrutura das teias de aranhas parasitadas não aumentou as chances de sobrevivência das pupas dos parasitoides. Isso indica que as características naturais das teias, como a estrutura de fixação do abrigo foliar, podem ser suficientes para garantir a segurança das pupas durante os 14 dias de desenvolvimento desses parasitoides.

Montagem de 6 fotos, já descritas na legenda. 1a - Teia modificada construída por uma aranha parasitada. 2a - Fio ramificado de reforço adicionados por aranhas durante o parasitismo. 3a - Fio com base pegajosa utilizado para capturar formigas que caminham no chão da floresta. 4a e 5a - Fios de reforço adicionados ao redor da ancoragem do abrigo da teia (folha)

Os autores enfatizam que a persistência na indução dessas alterações, aparentemente sem sentido para este parasitoide, pode estar relacionada ao fato de que essas vespas descendem de um único ancestral que adquiriu a capacidade de induzir essas alterações durante o parasitismo de aranhas. Esta é uma das primeiras observações que sugere que características dos hospedeiros (nesse caso, a estrutura da teia) podem afetar os benefícios obtidos pelos parasitas durante a manipulação comportamental.

De acordo com o professor Thiago, a pesquisa destaca a importância de se comprovar, por meio de experimentos, os benefícios obtidos pelos parasitas ao induzirem alterações comportamentais em seus hospedeiros. Esse aspecto é fundamental para compreender a evolução e estabilidade dessas interações ecológicas ao longo do tempo. O estudo dos pesquisadores na revista Behavioral Ecology and Sociobiology pode ser conferido no link https://drive.google.com. 

Vale destacar que o termo “vespa de Darwin” é atribuído às espécies da família Ichneumonidae, que é extensa, e os parasitoides de aranhas constituem um pequeno grupo de 300 espécies dentro dela. Ele se deve ao espanto do naturalista e biólogo britânico Charles Darvim quando descobriu o comportamento destas vespas que crescem e matam o hospedeiro.

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